
Terapia Gênica: perspectivas na Medicina de Precisão
O campo da Terapia Gênica está em rápida evolução, com aprovações de terapias transformadoras e plataformas de edição como CRISPR-base e Cas9 expandindo o horizonte clínico. Ao mesmo tempo, reforça-se a necessidade de diversidade populacional em pesquisas, monitoramento de efeitos adversos, escalabilidade da produção e equidade no acesso global.
Essas tecnologias, integradas à Farmacogenômica, à Medicina de Precisão e à ética translacional, pavimentam o caminho para uma Medicina de Precisão mais segura, eficaz e inclusiva no século XXI. Sempre atenta ao que há de mais inovador na área da Saúde, a Dot.Lib traz um panorama da integração entre Genômica, Farmacogenética e Terapia Gênica e de suas contribuições e desafios. Confira!
Testes genéticos aplicados à prática clínica
O uso de tecnologias de sequenciamento de nova geração propiciou a detecção precisa de variantes germinativas e somáticas, fundamentais na triagem neonatal, no diagnóstico de doenças raras e na avaliação de predisposição a condições como câncer de mama e ovário (BRCA1/2), Doença de Alzheimer e hipercolesterolemia familiar (LDLR).
Além disso, estudos confirmam que variantes patogênicas detectadas em genes como TP53 viabilizam estratégias específicas de vigilância e intervenção. A identificação precoce fortalece a possibilidade de Terapia Gênica orientada por variantes genéticas, abrindo caminho para abordagens moleculares personalizadas.
Risco genético e representatividade populacional
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A estimativa de risco por polimorfismos é frequentemente baseada em grupos com predominância da ascendência europeia (ex.: UK Biobank). Isso reduz a aplicabilidade de resultados a populações de ascendências mistas. Recentemente, pesquisadores desenvolveram o Genetics of Latin American Diversity Database (GLADdb), contendo dados de 54 mil indivíduos, reforçando a importância da diversidade genômica nos estudos para uma Medicina Genômica mais inclusiva.
Terapias gênicas aprovadas e inovações técnicas
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- Casgevy (exagamglogene autotemcel): aprovado em dezembro de 2023, é o primeiro tratamento a base do CRISPR/Cas9 para Doença Falciforme e Beta-talassemia;
- Lyfgenia (lovotibeglogene autotemcel): terapia com vetor lentiviral para Doença Falciforme aprovada em dezembro 2023;
- Beqvez (fidanacogene elaparvovec): a terapia, que utiliza vetores do vírus adeno-associado (AAV) para hemofilia B, foi aprovada nos Estados Unidos e na União Europeia em abril e julho de 2024 respectivamente, e no Canadá em dezembro de 2023;
- Upstaza ou Kibilidi (eladocagene exuparvovec): terapia AAV para deficiência de descarboxilase de l-aminoácido aromático (AADC) aprovada na União Europeia em julho de 2022 e nos Estados Unidos em novembro de 2024;
- Tecelra (afamitresgene autoleucel): primeira terapia com receptor de células T (TCR-T) em sarcoma sinovial aprovada nos Estados Unidos em agosto de 2024.
Outro marco importante é a terapia baseada no CRISPR na correção da deficiência de Carbamoil Fosfato Sintetase I (CPS 1) em um bebê com infusão bem-sucedida e melhora clínica, reportado recentemente — ilustrando o potencial da edição de base in vivo.
Evidências clínicas e panorama global
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Uma revisão publicada em agosto de 2024 destacou marcos recentes da Terapia Gênica, como a aprovação de Casgevy e Luxturna, além de avanços promissores na edição genética, incluindo uma terapia para surdez associada ao gene OTOF em crianças, que não apresentou efeitos adversos graves.
Também em 2024, experimentos com fordadistrogene movaparvovec para distrofia muscular de Duchenne não demonstraram melhora motora, evidenciando limitações terapêuticas em determinadas abordagens. Em contrapartida, a terapia StitchR mostrou eficácia ao modular genes fragmentados em modelos de distrofia muscular, representando uma alternativa viável para mutações em genes de grande porte. No entanto, os desafios clínicos persistem.
Em abril de 2025, o ensaio clínico de segurança da terapia Elevidys, desenvolvida pela Sarepta Therapeutics, destinado à Duchenne, foi suspenso após dois óbitos por falência hepática, o que reacende o debate sobre a necessidade de protocolos rigorosos de imunossupressão e monitoramento contínuo em terapias gênicas. Esses episódios reforçam a importância de equilibrar inovação e segurança em intervenções genéticas emergentes.
Panorama regulatório e ético
A aprovação de regimes regulatórios de terapias avançadas de medicina regenerativa (RMAT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, e o PRIME, na Europa, tem acelerado a entrada de tratamentos genéticos voltados à Oncologia e a Doenças Raras, segundo revisão publicada na Frontiers in Medicine.
Dados do relatório publicado em 2024 pela American Society of Gene & Cell Therapy indicam uma tendência de diversificação nas aplicações: 51 % dos ensaios clínicos iniciados no ano não são voltados ao câncer. Já a revista The Lancet, em fevereiro de 2024, destacou o surgimento de um “novo tempo da Terapia Gênica de Precisão”, marcado pela incorporação crescente da edição genômica ao arsenal terapêutico.
Até 2023, estima-se que mais de 3.900 ensaios clínicos em Terapia Gênica tenham sido realizados em 46 países. Apesar do crescimento expressivo, o setor ainda enfrenta barreiras significativas, como os custos extremamente elevados — que podem ultrapassar os US$ 3,5 milhões para o desenvolvimento de terapias personalizadas —, desafios na manufatura e a falta de representatividade global nos estudos clínicos. Esses entraves limitam o acesso e dificultam a consolidação equitativa das terapias gênicas no cenário internacional.
Para se aprofundar no assunto
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Current Gene Therapy é um periódico científico internacional, publicado bimestralmente pela Bentham Science, que aborda avanços na terapia genética e celular. A revista é revisada por pares e voltada a cientistas acadêmicos e industriais interessados em pesquisas básicas e aplicações clínicas, incluindo desenvolvimento de vetores, engenharia genética celular, modelos animais e terapias humanas.
O periódico publica revisões e pesquisas originais com dados inéditos, abrangendo desde aspectos experimentais até questões éticas e regulatórias da área. Os artigos visam oferecer avaliações abrangentes e atualizadas, promovendo o intercâmbio entre pesquisadores de diferentes áreas da Biologia Experimental e da Medicina Molecular.
Sobre a Bentham Science
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