Qual país está preparado para enfrentar uma ameaça biológica?
No dia 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a classificação da infecção por COVID-19 e declarou que o mundo enfrentava uma pandemia — termo designado quando a doença infecciosa atinge um número de pessoas simultaneamente no mundo. Esse anúncio reforçou a necessidade dos países intensificarem as medidas de contenção do vírus.
Atualmente, são mais de 187 países afetados, mais de 400 mil mortos no mundo pela doença e o número de infectados ultrapassa os 7 milhões de pessoas. Para autoridades e organizações de saúde têm sido um grande desafio determinar recomendações para combater o avanço do novo coronavírus e conciliar com a necessidade da abertura das atividades econômicas.
Em maio, outra afirmação da OMS coloca os líderes governamentais mais uma vez em alerta: “É importante colocar isso na mesa: esse vírus pode se tornar endêmico em nossas comunidades e nunca desaparecer”, ressaltou Michael Ryan, diretor-executivo da organização. Diante da pandemia atual e dos possíveis surtos que podem ocorrer ao longo dos anos, surge a pergunta: qual país se encontra preparado para enfrentar uma ameaça biológica?
Para ajudar a responder essa pergunta, vamos compreender como foi desenvolvido, em 2019, o GHS, sigla em inglês para “Índice Global de Segurança Sanitária” — a primeira avaliação que aborda os recursos globais de segurança sanitária de 195 países — e as suas principais conclusões.
Por que foi criado o Índice GHS?
O Índice Global de Segurança Sanitária é um estudo que avaliou a capacidade dos países que compõem os Estados Partes do Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005) na prevenção, detecção e respostas a ameaças biológicas. O projeto é uma idealização da organização não governamental Nuclear Threat Initiative (NTI), do Johns Hopkins Center for Health Security (JHU) e desenvolvido pela Economist Intelligence Unit (EIU).
A proposta de seus organizadores é fomentar o debate e as mudanças sobre a segurança nacional da saúde no enfrentamento de surtos de doenças infecciosas que podem evoluir para epidemias e pandemias. Assista o vídeo abaixo e saiba mais sobre o estudo.
Vídeo sobre o Índice Global de Segurança Sanitária. (Fonte: GHS)
A pesquisa analisou a segurança e as capacidades de saúde de 195 países, abrangendo 34 indicadores, 140 perguntas divididas em 6 categorias (Prevenção, Detecção e notificação, Resposta Rápida, Sistema de Saúde, Conformidade com as normas internacionais e Ambiente de risco) e 85 subindicadores. Além disso, as posições foram definidas por notas de 0 a 100, em que 100 indica as melhores condições de saúde.
Principais avaliações
• Segundo o estudo, “a segurança nacional de saúde é fundamentalmente fraca em todo o mundo. Além disso, nenhum país está totalmente preparado para epidemias ou pandemias, e todos os países têm lacunas importantes para resolver”.
• A pontuação média geral foi de 40,2 (de 100) e os países de alta renda apresentaram uma média de 51,9. Os Estados Unidos aparecem no topo do ranking (1ª), seguido do Reino Unido e Países Baixos.
• Os países não estão preparados para um evento biológico globalmente catastrófico, pois 81% dos países tiveram a pontuação no nível inferior para indicadores relacionados a riscos deliberados (biossegurança); 92% dos países não mostraram evidências de exigir verificações de segurança para pessoas com acesso a materiais ou toxinas biológicas perigosas.
• São poucas as evidências que a maioria dos países apresentou sobre as capacidades de segurança em saúde e mostrou que elas funcionariam em uma crise. Menos de 5% mostraram a necessidade de testar seu centro de operações de emergência pelo menos anualmente; 77% não demonstraram capacidade de coletar dados laboratoriais em andamento ou em tempo real.
• Os países, em sua maioria, apresentaram deficiência nos sistemas de saúde para uma resposta a epidemias e pandemias. Apenas 27% mostraram a existência de uma estratégia atualizada da força de trabalho em saúde e, ainda, 3% mostraram um compromisso público de priorizar os serviços de saúde para os profissionais que adoecem pela participação no enfrentamento no combate de um evento biológico.
• Apenas 16 países mostraram evidências da existência de um sistema atualizado de registro e gerenciamento de inventário de instalações que armazenam ou processam vírus e toxinas perigosas.
Clique aqui para ter acesso ao relatório completo e as 33 recomendações para preencher as lacunas encontradas no presente relatório.
Como está a situação do Brasil no ranking?
Fonte: iStock
O Brasil alcançou 59,7 pontos — encontra-se na categoria “mais preparado” — e ocupa a 22ª colocação no ranking, à frente da China (51ª). Além disso, é o país latino-americano com a melhor posição. Veja abaixo os principais destaques no relatório:
• Em relação à prevenção, a pontuação obtida foi de 59,2 (média global foi de 34,8 pontos);
• Sobre a “Detecção e notificação de ameaças biológicas” atingiu 82,4 pontos;
• No indicador “Sistema de Laboratório”, obteve nota 100. Importante lembrar que há grandes centros de pesquisas brasileiros de excelência, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — com 120 anos de história;
• No item que abrange a “Vigilância em tempo real”, o país alcançou 81,7 pontos.
Para visualizar todos os dados do Brasil no índice, clique aqui.
Prepara-se
Fonte: iStock
O Índice GHS busca esclarecer as lacunas apresentadas para aumentar a vontade política e o financiamento para preenchê-las tanto no nível nacional quanto internacional. Por isso é fundamental os governantes entenderem os recursos existentes para preparar um sistema de saúde capaz de combater e mitigar epidemias e pandemias. Dessa forma, as avaliações deste estudo contribuem para construir uma segurança sanitária nacional e global mais robusta e eficaz.
Caso tenha interesse em mais conteúdos relacionados a preparação dos sistemas de saúde em tempos de crise, acesse: COVID-19: 4 elementos essenciais para preparar um sistema de saúde e 5 competências de uma liderança em tempos de crise.
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