ESG: do lucro à responsabilidade social e ambiental
Há mais de uma década, o mundo corporativo — antes guiado basicamente por produtividade e consequente aumento nos lucros — passou a acolher e implantar valores como sustentabilidade e responsabilidade social. Essa nova perspectiva mudou a forma como as organizações se viam ou eram vistas pela sociedade e as tomadas de decisão passaram a considerar um perímetro maior do que somente os funcionários ou a localização geográfica dessas corporações.
Os prazos também mudaram: a partir do ESG, os investimentos passam a considerar um horizonte de décadas com resultados organizacionais, ambientais e sociais positivos e duradouros. Como é possível perceber, as tomadas de decisão baseadas neste conceito requerem uma visão holística dos líderes empresariais, uma vez que os impactos dessas escolhas serão sentidos em toda a sociedade.
Ainda que tudo isso pareça distante e restrito apenas às grandes corporações do mercado financeiro e tecnológico, o ESG tem atraído cada vez mais empresas de diversos tamanhos e setores, mostrando que esta pode ser uma tendência do mercado de trabalho e gestão corporativa que veio para ficar.
Para se ter uma ideia, a sexta edição da Pesquisa Global com Investidores Institucionais da consultoria internacional EY, realizada em 2021, mostra que 79% dos gestores e investidores entrevistados consideram os riscos e oportunidades do ESG como fatores importantes para suas negociações e 49% desistiriam de seus aportes financeiros em empresas que não tomam ações de adoção do ESG em sua cultura organizacional. Considerando o cenário, a Dot.Lib preparou este artigo que traz os conceitos básicos do ESG e sua importância para além dos aspectos financeiros.
História
Fachada da Organização das Nações Unidas, onde o ESG nasceu (imagem: iStock).
Ainda que tudo isso pareça novo, a sigla e o conceito de ESG surgiram em 2004 no Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede internacional de investidores ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo do PRI era criar uma rede de apoio para auxiliar os investidores signatários na implementação de princípios de sustentabilidade tanto nas escolhas e gerenciamentos de seus investimentos quanto na gestão de suas propriedades, minimizando os respectivos riscos tanto dentro das corporações quanto na sociedade.
Em 2005, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reuniu 20 investidores (entre corretores, financistas, empresários e demais expoentes do setor financeiro) de 12 países para discutir e definir esses princípios. O grupo foi apoiado especialistas da indústria de investimento, organizações intergovernamentais e sociedade civil e, em 2006, os PRI foram anunciados na Bolsa de Valores de Nova York.
A reunião resultou em um relatório intitulado “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”, em português) no qual a sigla ESG apareceu pela primeira vez. O documento considerou que a inclusão de valores ambientais, sociais e de governança nos debates e tomadas de decisão no mercado financeiro traria benefícios não só às corporações do setor, mas a toda sociedade.
O que é ESG?
Esquema ilustrativo sobre como funciona o ESG (imagem: iStock).
Em linhas gerais, o ESG é um conceito que nasce no mundo dos negócios e mostra quão sustentável é o investimento para além das questões econômicas. Cada letra da sigla representa os pilares para os quais as corporações devem mirar seus esforços.
E de environmental (“ambiental” ou “meio ambiente”): neste tópico, as empresas precisam se atentar aos impactos de suas ações no meio ambiente e como torná-las mais sustentáveis (ou menos prejudiciais). Mudanças climáticas, biodiversidade e gestão de resíduos se tornam temas fundamentais para as escolhas de investimentos.
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S de social: este item tem efeitos internos e externos às empresas que aderem ao ESG, uma vez que tanto seus colaboradores quanto os chamados stakeholders (ou seja, toda a cadeia interna e externa de produção e consumo dessas empresas) passam a usufruir de seus benefícios. Esta parte do conceito se preocupa com temas que vão desde diversidade e engajamento dos funcionários, satisfação dos clientes e defesa do consumidor, proteção de dados, até direitos humanos, bem-estar animal e investimento e/ou doações em ações sociais realizadas por ONGs e outras instituições.
G de governance (ou “governança”): por último, esta parte tem efeitos internos às empresas que aderem ao ESG, uma vez que está intimamente ligada a uma gestão ética da organização. Os pontos a serem considerados neste item compreendem leis trabalhistas e remuneração, composição do conselho, aplicação de auditorias, e relações laborais e governamentais.
Desafios
Riscos e oportunidades do ESG são considerados antes do fechamento de um novo investimento (imagem: iStock).
Publicado na Analytics Magazine, especializada em pesquisa operacional e ciência gerencial, o artigo “Why Technology Companies Must Navigate Muddy Waters of ESG Requirements” (ou “Por que as empresas de tecnologia devem navegar pelas águas lamacentas dos requisitos ESG”) já mostra, desde o título, os desafios que as empresas de tecnologia enfrentam ao aderir às práticas de governança sustentável. Entre eles:
- Falta de métricas: uma vez que os objetivos do ESG estejam definidos, é necessário quantificar quão perto de atingi-los a empresa está e se de fato os valores embutidos neste conceito estão efetivamente sendo aplicados e devidamente registrados. De acordo com a Pesquisa Global com Investidores citada no início deste artigo, apenas 33% dos investidores acreditam que a qualidade dos relatórios ESG atuais é boa;
- Equilíbrio entre custos, retornos e sustentabilidade: ainda que o discurso do ESG soe bom e ético, sua prática ainda pode custar caro, o que torna a aplicabilidade deste conceito praticamente impraticável às médias e pequenas empresas;
- Inserção do ESG na cultura organizacional: é necessário que os stakeholders incorporem em suas respectivas áreas as boas-práticas ESG, a começar pela revisão de seus processos, de forma gradual, sem pressões e sem deixar de atender aos anseios dos investidores, gestores e cadeias de produção e consumo.
Sobre a INFORMS
Imagem: INFORMS / Dot.Lib
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