Tipos de pesquisa científica e suas características - parte 2
Saber escolher a abordagem de acordo com tema ou área de conhecimento é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa e da Ciência como um todo. Na primeira parte da série de artigos sobre modalidades de estudos científicos, foram abordadas as pesquisas experimental, bibliográfica e documental. Nesta segunda parte, fique por dentro do que são as pesquisas de campo, ex-post-facto e pesquisa-ação, suas principais características e respectivas aplicações.
1) Pesquisa de campo
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Você provavelmente já foi abordado(a) na rua, por telefone ou internet para responder algum questionário sobre suas preferências. Esse tipo de abordagem é chamado de pesquisa de campo e seu objetivo é observar, coletar, analisar e interpretar os fenômenos diretamente da realidade na qual se encontra o objeto de estudo como nichos, cenários e ambientes naturais de vivência.
Ainda que seja uma das etapas do método científico — e desse modo, seja parte fundamental da pesquisa experimental — este tipo de pesquisa não se atém apenas ao campo das Ciências da Saúde ou Ciências Biológicas e é frequentemente usado por cientistas sociais para identificar e estudar o comportamento de indivíduos, grupos, comunidades, como é feito no Censo Demográfico, por exemplo.
Já um exemplo de como esse tipo de pesquisa pode ser o ponto de partida para outra é o estudo "Formação Gogo: uma visão sobre a primeira grande barreira de recifes da Austrália", publicado no Journal of the Geological Society, um periódico da GeoScienceWorld. Nele, os pesquisadores relatam a coleta de partes ou totalidades de fósseis de animais marinhos da era devoniana que, após análise laboratorial, forneceram dados sobre a formação da primeira grande barreira de recifes da Austrália.
Principais características
- Os principais tipos são classificados como exploratória, quantitativa-descritiva e experimental;
- Coleta de dados feita no local onde se encontra o objeto de estudo;
- Em geral, é composta por quatro etapas: pesquisa bibliográfica, coleta de dados, tratamento e análise dos dados, publicação dos resultados em artigos científicos ou anais de eventos acadêmicos;
- Pode complementar outros tipos de pesquisa, como a bibliográfica e a ex-post-facto.
2) Pesquisa ex-post-facto
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Conforme a tradução literal do latim para o português diz, esta modalidade de pesquisa é realizada “a partir do fato passado” e tem por objetivo investigar se há relação de causa e efeito entre fato e um fenômeno que ocorre após o fato específico. Assim sendo, esta modalidade é uma opção quando já não é mais possível realizar a pesquisa experimental — ou seja, quando não há possibilidade de analisar o fenômeno em andamento.
Em geral, sua aplicabilidade se dá nas Ciências Sociais e Humanas para entender o impacto a longo prazo em diversos níveis e setores da sociedade que certos fatos ou fenômenos trazem à população tempos depois de sua ocorrência. O trabalho "Efeitos de longo prazo de danos causados por furacões no crescimento e mortalidade de árvores de florestas tropicais", publicado na revista Ecology, da editora Wiley, é um exemplo deste tipo de pesquisa.
Principais características
- Os dados são coletados posteriormente à ocorrência do evento estudado;
- É uma modalidade de estudo empírica descritiva;
- Não é possível ter controle direto sobre as variáveis independentes;
- Pode ser aplicada em trabalhos de iniciação científica, TCC, monografia, apresentações em eventos acadêmicos, entre outros.
3) Pesquisa-ação
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A pesquisa-ação — como o próprio nome dá a entender — é um tipo de estudo necessariamente empírico, ou seja, feito por meio de ações práticas cujo objetivo é identificar e solucionar um problema coletivo. Nesse aspecto, o pesquisador não só é responsável por dar assistência aos atores envolvidos na geração de conhecimento, mas também por aplicar este conhecimento.
Nesse tipo de estudo, o pesquisador está imerso no ambiente onde ocorre o fenômeno a ser estudado e tem autonomia para testar as hipóteses acerca da ocorrência, fazer diagnósticos e gerar uma solução de aplicação prática no mundo real. Geralmente, este procedimento de pesquisa é indicado para áreas que necessitem coletar dados sutis e relevantes, como em grandes organizações e setores da Educação, Tecnologia e Sistemas de Informação. Um exemplo de pesquisa-ação é um estudo de 2017 publicado na JSTOR que descreve a implementação de metodologias de ensino no modelo de sala de aula invertida com uso de aparatos tecnológicos para solucionar a deficiência digital de alunos do ensino fundamental.
Ainda que seja essencialmente prática, a pesquisa-ação precisa ser documentada: portfólios que compilem levantamentos de dados, resultados, atas de reunião e outros documentos sobre o desenvolvimento da pesquisa são necessários para fins de demonstração e comprovação, assim como ocorre com a pesquisa documental.
Principais características
- É composta por cinco fases cíclicas: identificação do problema, planejamento da ação que visa mudar o cenário problemático, aplicação prática da ação, observação e coleta de dados, reflexão e compartilhamento dos resultados;
- O pesquisador deve estar imerso no ambiente do problema e ter autonomia para identificá-lo e solucioná-lo;
- Permite formular soluções de ação prática em cenários reais;
- Após o implemento da ação, é possível investigar seus efeitos e o que pode ser feito para melhorar a prática. Um exemplo: quando uma empresa muda sua cultura organizacional por meio de ações de comunicação e bonificações, é possível avaliar a eficácia dessas ações por meio das reações dos colaboradores (comentários, produtividade, entre outros critérios);
- Esta é uma modalidade de pesquisa necessariamente participativa, ou seja, tanto avaliados quanto avaliadores participam da produção de conhecimento.
- Possui caráter contínuo, uma vez que os objetivo da pesquisa-ação são a mudança na realidade prática e a constante melhoria dos processos.
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