Prêmio Nobel 2024: conheça os vencedores e suas contribuições
Desde sua primeira edição, em 1901, o Nobel se mantém como uma das premiações internacionais mais importantes ao longo dos anos ao reconhecer pessoas e organizações responsáveis por descobertas ou atuações de impacto positivo mundial. A motivação por trás da criação do evento — que leva o sobrenome do inventor, químico e engenheiro suíço Albert Nobel — é curiosa.
Enquanto lia um jornal francês, o cientista se deparou com seu próprio obituário, que foi publicado por engano oito anos antes de sua morte. O documento foi intitulado como “o mercador da morte morreu”, já que Nobel se tornou famoso após ter inventado a dinamite e outros explosivos. Preocupado em como seria lembrado, Nobel deixou em seu testamento o desejo de que toda a sua fortuna fosse usada para premiar aqueles que realizam “o maior benefício para a humanidade”.
E é por esse motivo que todos os anos a Academia Real das Ciências da Suécia — responsável por realizar o evento e escolher os vencedores — também oferece um grande prêmio em dinheiro como um incentivo aos laureados para que se dediquem à continuação de seus trabalhos. Vale lembrar que a categoria de Economia não é oficialmente considerada parte do Prêmio Nobel, embora seja dedicada à memória de Alfred Nobel.
No artigo sobre a laureada na categoria literária de 2022, explicamos brevemente como se dá a seleção dos candidatos e a escolha do vencedor. E seguindo a tradição iniciada no mesmo ano, a Dot.Lib traz a lista com os vencedores do Prêmio Nobel de 2024 e suas contribuições nos campos da Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Economia. Confira!
Física
- Vencedores: Geoffrey Hinton (Inglaterra / Canadá) e John Hopfield (Estados Unidos).
Imagem: Geoffrey Hinton e John Hopfield, vencedores da categoria de Física (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
Nascido em 1947 em Londres, Reino Unido, Geoffrey Hinton é um renomado pesquisador da Universidade de Toronto. Ele atuou como consultor no Google até 2023, quando deixou a empresa alertando sobre os riscos da IA. Pioneiro no campo, suas inovações transformaram o reconhecimento de fala e a classificação de imagens, valendo-lhe prêmios como o Turing, considerado o “Nobel da Computação”.
Já seu parceiro John Hopfield nasceu em 1933, em Chicago, e é professor emérito de Princeton, onde é amplamente reconhecido por suas contribuições à Neurobiologia e Física Teórica. Ele é o criador do modelo de redes de Hopfield, que simula a memória e o processamento de informações no cérebro humano, abordando conceitos de “memória associativa”. Esse trabalho lhe rendeu distinções como a Medalha Dirac e o Prêmio Albert Einstein.
O comitê do Nobel destacou que as descobertas da dupla estabeleceram as bases das redes neurais artificiais modernas. Nos anos 80, Hopfield propôs uma rede neural capaz de recuperar informações mesmo quando apresentadas de forma parcial, enquanto Hinton aplicou conceitos da Física Estatística para criar tecnologias que identificam padrões autonomamente.
As inovações de Hinton são fundamentais para o machine learning (ou aprendizado de máquina), no qual os sistemas aprendem a reconhecer novos elementos com base em exemplos anteriores em vez de instruções diretas, como nos softwares tradicionais. Essa abordagem permite resolver problemas complexos como a identificação de objetos em imagens, algo que requer uma capacidade dinâmica e profunda de compreensão.
Química
- Vencedores: Demis Hassabis (Inglaterra), David Baker e John M. Jumper (Estados Unidos).
Imagem: Demis Hassabis, David Baker e John M. Jumper, vencedores na categoria de Química (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
David Baker, nascido em 1962, é professor na Universidade de Washington e foi premiado com o Nobel de Química de 2024 por suas inovações no design computacional de proteínas. Sua abordagem possibilita a criação rápida dessas macromoléculas por meio da manipulação de sequências de aminoácidos, com aplicações importantes em medicamentos e vacinas, conforme ressaltado pela Academia Real das Ciências da Suécia.
O londrino Demis Hassabis (1976) é conhecido por ser o CEO da Google DeepMind, uma divisão de pesquisa em inteligência artificial do Google. Ele foi reconhecido por desenvolver, junto com John Jumper, um modelo de IA que prevê a estrutura de quase todas as 200 milhões de proteínas conhecidas.
Por último e não menos importante, John Jumper (1985) é cientista de pesquisa sênior na Google DeepMind. Ele e Demis são os criadores do AlphaFold2, uma tecnologia apresentada em 2020 que revolucionou o campo da Biologia ao prever a forma tridimensional das proteínas a partir de suas sequências de aminoácidos, resolvendo um problema científico de 50 anos.
De acordo com Andrei Chabes, professor de Bioquímica Médica na Universidade de Umeå e membro do comitê do Prêmio Nobel, o AlphaFold2 eliminou a necessidade de métodos experimentais caros e complexos. Isso permite prever a estrutura tridimensional de proteínas com precisão a partir de suas sequências.
Essa inovação possibilita o desenvolvimento de medicamentos que podem ativar ou inibir a função das proteínas, trazendo avanços significativos para os tratamentos médicos. Desde o seu lançamento, o AlphaFold2 já foi utilizado por milhões de pessoas em mais de 190 países, destacando seu impacto global.
Fisiologia ou Medicina
- Vencedores: Victor Ambros e Gary Ruvkun (Estados Unidos).
Imagem: Gary Ruvkun e Victor Ambros, vencedores na categoria de Medicina (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
Gary Ruvkun e Victor Ambros foram agraciados com o Prêmio Nobel de 2024, dividindo igualmente a premiação por suas contribuições na descoberta dos microRNAs (miRNAs) e seu papel na regulação da atividade genética. O trabalho de Gary revelou como os microRNAs regulam a ativação e desativação dos genes, ajudando a entender os mecanismos que controlam o funcionamento celular.
Victor Ambros, por sua vez, descobriu que o RNA possui pequenas moléculas que desempenham um papel crucial no desenvolvimento das células. O comitê do Nobel destacou que os microRNAs são essenciais para o controle da expressão genética, influenciando o desenvolvimento adequado de células e tecidos.
Quando a regulação mediada por microRNAs falha, pode resultar em condições graves, como câncer e diabetes. Essas moléculas permitem que as células selecionem quais genes expressar, ativando apenas as instruções necessárias para cada tipo celular. Os microRNAs também têm impacto em doenças infecciosas, como a COVID-19.
Segundo Thomas Perlmann, secretário-geral do comitê do Nobel de Medicina, praticamente todas as doenças estão associadas à função dos microRNAs, especialmente o câncer, onde perturbações nos microRNAs são frequentes. Embora tratamentos específicos ainda não tenham sido desenvolvidos a partir dessa descoberta, manipular os microRNAs para influenciar a expressão gênica pode abrir novos caminhos terapêuticos para o tratamento de várias condições, incluindo o câncer.
- Leia também: “Prêmio Nobel de Medicina 2023: tecnologia de mRNA contra COVID”
Literatura
- Vencedora: Han Kang (Coreia do Sul).
Imagem: Han Kang, vencedora na categoria de Literatura (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
O comitê do Prêmio Nobel agraciou Han Kang por sua "intensa prosa poética que confronta traumas históricos e revela a fragilidade da vida humana”. Nascida em 1970 em uma família literária, a autora é a primeira sul-coreana a conquistar essa distinção. Além da escrita, Han tem interesse em arte e música, o que permeia sua produção literária.
Ela iniciou sua carreira em 1993, com poemas publicados na revista “Literatura e Sociedade”, e estreou na prosa em 1995 com a coleção de contos “Amor de Yeosu”. Seu reconhecimento internacional veio com “A vegetariana” (2007), obra que narra, em três partes, as consequências da recusa de uma mulher em seguir normas alimentares, abordando temas como violência e repressão.
- Leia também: “Prêmio Nobel de Literatura 2023: conheça o vencedor e sua obra”
Paz
- Vencedor: Grupo Nihon Hidankyo (Japão).
Imagem: Grupo japonês Nihon Hidanko, vencedor da categoria de Paz (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
A organização japonesa Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, foi a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2024. A escolha, que surpreendeu analistas, foi motivada pelo aumento de conflitos globais, especialmente na Ucrânia, no Oriente Médio e no Sudão, além da crescente ameaça do uso de armas nucleares.
Conhecida também como Hibakusha, o Nihon Hidankyo é um movimento popular que reúne apenas os sobreviventes dos bombardeios de 1945. À época, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre as duas cidades japonesas, resultando na morte de 120 mil a 200 mil pessoas e marcando o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi o único uso de armas nucleares em conflitos armados na história.
O comitê do Nobel destacou que o prêmio serve como um alerta ao mundo atual sobre a necessidade de nunca mais usar tais armas. O Nihon Hidankyo soube da premiação pela imprensa, e Toshiyuki Mimaki, diretor e sobrevivente de Hiroshima, declarou em entrevista que o prêmio reforça o apelo pela abolição das armas nucleares.
Economia
- Vencedor: Daron Acemoglu (Turquia), Simon Johnson e James A. Robinson (Reino Unido).
Imagem: Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, vencedores da categoria de Economia (Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach).
O Prêmio Nobel de Economia de 2024 foi concedido ao trio por suas pesquisas que explicam as disparidades de prosperidade entre as nações. Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT, e James, da Universidade de Chicago, investigaram por que algumas regiões se desenvolveram mais do que outras, destacando a persistente desigualdade de renda global. Juntos, publicaram o livro “Por que as nações fracassam”, que destrincha as origens da desigualdade e as diferentes trajetórias de desenvolvimento econômico.
Os laureados mostraram que as diferenças na prosperidade entre os países são influenciadas pelas instituições estabelecidas durante a colonização europeia. Eles identificaram dois tipos principais de colônias: 1) aquelas que criaram “instituições extrativistas” para explorar recursos e mão de obra locais, resultando em um crescimento de curto prazo concentrado em uma elite; e 2) as colônias de “instituições inclusivas”, que incentivavam trabalho e investimento, promovendo direitos políticos mais amplos e benefícios de longo prazo.
Os estudos revelaram que a resistência dos povos originários influenciou a criação dessas instituições, com áreas de alta população indígena frequentemente desenvolvendo sistemas que beneficiavam uma elite local às custas da população. Em contrapartida, colônias com menos população nativa, que necessitavam de mão de obra, desenvolveram instituições mais inclusivas para atrair colonos.
Essa “reversão de riqueza” explica por que nações com instituições inclusivas prosperaram mais, especialmente durante as revoluções industriais, enquanto os países com instituições extrativistas permanecem mais pobres. Exemplos como a cidade de Nogales, dividida entre os EUA e o México, ilustram como diferentes abordagens coloniais resultaram em níveis distintos de desenvolvimento econômico.
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Imagem: Dot.Lib / World Scientific.
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