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Fique por dentro das principais informações históricas e médicas sobre uma das doenças mais antigas da humanidade (imagem: Canva). Fique por dentro das principais informações históricas e médicas sobre uma das doenças mais antigas da humanidade (imagem: Canva).
Hanseníase: um panorama histórico, clínico e terapêutico
  • Artigo
  • Ciências da Saúde
  • 17/01/2025
  • BMJ, BMJ Best Practice, DotLib, Hanseníase

A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica que acomete a pele, os nervos periféricos, as mucosas das vias respiratórias superiores e os olhos. Causada pelo Mycobacterium leprae, essa patologia possui um impacto significativo na história da Medicina e da Saúde Pública.

Este artigo explora a descoberta da hanseníase, seus principais sintomas, métodos de diagnóstico e tratamento, bem como a abordagem interdisciplinar necessária para o manejo da doença. Confira!

História da descoberta

Hanseníase: Gerhard Armauer Hansen e Albert Neisser.

Da direita para a esquerda, os cientistas Gerhard Armauer Hansen e Albert Neisser (imagens: domínio público).

A hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade, com registros históricos que remontam a 600 anos a.C., mencionados em textos religiosos e relatos médicos antigos, frequentemente associados a estigmas e isolamento social. No entanto, foi somente em 1873 que o cientista norueguês Gerhard Armauer Hansen realizou uma descoberta fundamental: a identificação do Mycobacterium leprae como o agente etiológico da doença.

Utilizando técnicas microscópicas avançadas para a época, Hansen observou a presença de bacilos em amostras de tecido de pacientes, estabelecendo pela primeira vez uma relação causal entre um microrganismo e uma doença crônica. Essa descoberta foi complementada em 1879 pelo trabalho do médico e cientista alemão Albert Neisser, que também estudou o M. leprae e publicou resultados detalhados sobre o bacilo.

Embora suas contribuições tenham fortalecido o entendimento da doença, Neisser enfrentou críticas éticas e científicas por não reconhecer inicialmente os achados de Hansen e por utilizar amostras de pacientes sem consentimento adequado. Apesar dessas controvérsias, os estudos de ambos foram cruciais para o avanço da Bacteriologia e para a aceitação da teoria microbiana.

Tipos de hanseníase

Hanseníase: Mycobacterium leprae, agente causador da hanseníase visto pelo microscópio.

Mycobacterium leprae, agente causador da hanseníase visto pelo microscópio (imagem: Canva).

A classificação mais amplamente utilizada é a de Ridley e Jopling, que divide a doença em cinco formas principais, representando um espectro clínico e imunológico:

  1. Indeterminada (HI): fase inicial da doença, caracterizada por lesões cutâneas hipocrômicas (manchas claras), com pouca ou nenhuma alteração sensorial. Pode evoluir para formas mais graves ou regredir espontaneamente e tem baixa carga bacilar;
  2. Tuberculoide (HT): no geral, este tipo é paucibacilar (poucos bacilos presentes), com lesões em locais específicos e bem delimitadas. Ainda, há comprometimento de nervos periféricos com perda sensorial e resposta imunológica celular robusta;
  3. Dimorfa ou borderline (HD): pode ser paucibacilar ou multibacilar, com forma instável, entre a tuberculoide e a lepromatosa. Manifesta-se por meio de lesões variadas, de bordas irregulares, com comprometimento nervoso significativo. Pode evoluir para formas mais graves ou regredir;
  4. Lepromatosa (HL): é o estágio mais grave e disseminado da doença. É caracterizado por lesões extensas, simétricas — incluindo nódulos, placas, e infiltrações cutâneas — e comprometimento nervoso severo, com maior risco de incapacidades. A carga bacilar é alta, com presença de bacilos em abundância em esfregaços de pele;
  5. Dimorfo-lepromatosa (HDL): possui forma intermediária, entre a dimorfa e a lepromatosa, com características clínicas mistas e resposta imunológica variável.

Classificação operacional da OMS

Para simplificar o tratamento e manejo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divide a hanseníase em duas categorias:

  1. Paucibacilar (PB): composta por até 5 lesões cutâneas, geralmente inclui as formas indeterminada e tuberculoide, além de apresentar resultado negativo na baciloscopia;
  2. Multibacilar (MB): composta por mais de 5 lesões cutâneas — incluindo as dimorfas, lepromatosas e dimorfo-lepromatosas — apresenta resultado positivo na baciloscopia.

Principais sintomas

Hanseníase: um braço de um homem tomado pela hanseníase.

Um homem com o braço tomado pela hanseníase (imagem: Canva).

Os sinais clínicos da hanseníase variam de acordo com a resposta imunológica do paciente. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Manchas hipocrômicas ou eritematosas: com perda de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa;
  • Espessamento de nervos periféricos: frequentemente associado a dor ou à perda de função motora;
  • Lesões cutâneas de longa duração: estas não costumam responder a tratamentos convencionais;
  • Complicações oculares: iridociclite e a ceratoconjuntivite são as mais comuns.

Diagnóstico

O diagnóstico da hanseníase é clínico e laboratorial, exigindo uma abordagem cuidadosa para evitar diagnósticos tardios. Os principais exames incluem:

  • Exame dermatoneurológico completo: esta bateria de exames avalia a presença de lesões cutâneas e o estado dos nervos periféricos;
  • Baciloscopia: é realizada a partir de esfregaços de lesões cutâneas para identificar o M. Leprae;
  • Teste de sensibilidade cutânea: avalia a perda sensorial nas áreas afetadas;
  • Biópsia de pele: confirma o diagnóstico por meio de análise histopatológica.

Tratamento

O tratamento da hanseníase é baseado na poliquimioterapia (PQT), um regime padronizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os medicamentos incluem rifampicina, dapsonaclofazimina, administrados por um período de 6 a 12 meses, dependendo da classificação da doença (paucibacilar ou multibacilar). O tratamento é eficaz na cura da doença e na prevenção de complicações.

Abordagem interdisciplinar

Hanseníase: equipe de saúde prestando atendimento médico aos pacientes na UTI.

Imagem: Canva.

O manejo da hanseníase requer a colaboração de uma equipe multidisciplinar, na qual cada profissional desempenha um papel crucial para o sucesso do tratamento e a reabilitação dos pacientes:

Médicos têm a responsabilidade de conduzir o diagnóstico clínico e laboratorial, identificando precocemente a doença e classificando os casos em paucibacilares ou multibacilares. Além disso, devem monitorar o progresso do tratamento, manejar reações adversas e tratar complicações, como neurites ou incapacidades físicas.

Enfermeiros atuam diretamente no acompanhamento dos pacientes, promovendo a adesão ao tratamento por meio de visitas domiciliares, monitoramento regular e suporte educacional. Eles também desempenham um papel essencial na identificação precoce de sinais de reações hansênicas e na orientação sobre cuidados para prevenir incapacidades.

Farmacêuticos garantem o abastecimento contínuo e a qualidade dos medicamentos utilizados na poliquimioterapia. Além disso, são responsáveis por orientar os pacientes sobre a administração correta dos medicamentos, possíveis interações e efeitos adversos, contribuindo para o uso racional dos fármacos.

Prevenção e controle

A prevenção da hanseníase envolve o diagnóstico precoce e o tratamento de casos ativos para interromper a transmissão. A imunização com a vacina BCG também tem mostrado eficácia parcial na prevenção. Ainda, a conscientização sobre a hanseníase ajuda a romper os estigmas sociais sobre os pacientes acometidos pela doença e os incentiva a buscar por ajuda especializada.

Sobre a BMJ Best Practice

Hanseníase: logo da BMJ Best Practice.

Imagem: Dot.Lib / BMJ Group.

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