Bicentenário da Independência do Brasil: 5 livros para entender a data
Há 200 anos, às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, o imperador Dom Pedro I deu o grito que entrou para a história como o brado de liberdade de uma nascente nação: “Independência ou morte!”. Desde então, o Brasil tem lutado para manter sua soberania diante das infindáveis adversidades internas e externas, culturais ou temporais.
Em homenagem a este feito tão importante, a equipe Dot.Lib selecionou cinco livros que mostram como os cenários político, econômico, social e cultural convergiram para que o Brasil se tornasse uma nação independente e uma potência do hemisfério sul.
1. “O Sequestro da Independência” (2022)
Autores: Carlos Lima Junior, Lilia Moritz Schwarcz e Lúcia Klück Stumpf
Imagem: Grupo Companhia das Letras.
A versão oficial do Sete de Setembro, ainda com viés europeu, masculino, pacífico e unificador, segundo os autores. Dessa forma, o livro traz uma análise de como se deu a longa e conflituosa emancipação política do Brasil, seus diversos atores e regiões nas quais se desenrolou o processo, tomando como ponto de partida o famoso quadro “Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, e uma farta coleção imagética.
A obra revela detalhes até então despercebidos pelos historiadores e que explicam em profundidade alguns dos mais importantes episódios que sucederam o rompimento com a Coroa portuguesa e o nascimento do império brasileiro, como as tensões do Segundo Reinado, as rivalidades entre Rio de Janeiro e São Paulo, passando pelos regimes ditatoriais e chegando ao governo atual.
A leitura revisita todo o percurso histórico que contribuiu para silenciar outras narrativas possíveis para a Independência, suscitando o que os autores chamam de “uma política de sequestros”, que tem como origem o Sudeste, os paulistas e, posteriormente, os militares.
2. “Adeus, Senhor Portugal” (2022)
Autores: Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira
Imagem: Grupo Companhia das Letras.
Os grandes gastos, especialmente com assuntos militares como as guerras, fizeram com que, a partir do século XVIII, a crise orçamentária se tornasse um problema comum às monarquias europeias. O mesmo ocorreu com a coroa portuguesa depois das guerras napoleônicas e, novamente, com a transferência da família real para o Rio de Janeiro. Muitos servidores civis e militares estavam sem receber seus pagamentos e a emissão desenfreada de papel-moeda aumentou a inflação que, por sua vez, impactou severamente os preços dos alimentos.
O cenário que se instalou no final da década de 1810 não só gerou insatisfações dos súditos de D. João VI como foi o estopim para que revoluções dentro do Brasil eclodissem. Em Portugal, a Revolução Liberal de 1820 e 1821 poria em xeque o absolutismo do monarca ao reivindicar uma Constituição que impusesse limites às tomadas de decisão do rei sobre as decisões relacionadas ao gasto público e à cobrança de impostos.
A obra “Adeus, senhor Portugal” é um estudo minucioso, original e em constante diálogo com a historiografia sobre o período, sendo uma leitura obrigatória para quem quer entender a influência da crise econômica e das tensões sociais e políticas que culminaram no processo de emancipação do Brasil. O livro também mostra como a crise orçamentária, à época, denunciou o desgaste das instituições do Antigo Regime.
3. “Insultos Impressos” (2022)
Autora: Isabel Lustosa
Imagem: Grupo Companhia das Letras.
Implantada no Brasil em 1808 e sob forte censura, a imprensa teve uma importante participação no processo da Independência. Com os novos rumos que a política tomava — de uma monarquia absolutista para uma constitucionalista — os brasileiros se mostraram mais à vontade para participar do debate público, que passou a ter mais liberdade a partir de 1821.
As discussões começaram com a oposição aos decretos das cortes de Lisboa que determinavam medidas contra os interesses do Brasil — entre elas, a volta de D. Pedro I para Portugal — e, após o Fico, se concentraram na disputa sobre qual seria o melhor projeto constitucional para o país.
“Insultos Impressos” mostra como essa nova liberdade que veio com a monarquia constituinte inspirou a produção jornalística da época. Ainda, revelou um elenco de jornalistas improvisados que trouxe para a página impressa um rico repertório de recursos retóricos, linguagens e ações.
Com o direito ao anonimato dos autores garantido por lei, personalidades como o próprio D. Pedro I, seu ministro José Bonifácio e o maior intelectual da época, o visconde de Cairu, se digladiaram com gente mais modesta como João Soares Lisboa, Luís Augusto May e o sardo Joseph Stephano Grondona, produzindo a impressionante polifonia retratada na obra da historiadora Isabel Lustosa.
4. “O Jornal e o Livro” (edição de 2011)
Autor: Machado de Assis
Imagem: Grupo Companhia das Letras.
Se a sugestão anterior fala sobre a influência da então recém-nascida imprensa brasileira, esta está relacionada a um dos maiores nomes da literatura nacional e revelado pelo jornalismo: Machado de Assis. Os textos reunidos neste volume revelam uma faceta ainda pouco difundida da obra machadiana, célebre por seus romances, contos e poesias.
Em “O Jornal e o Livro”, o autor de obras primas como Esaú e Jacó e Dom Casmurro cede lugar ao crítico rigoroso e ao cronista atento aos temas culturais mais importantes de seu tempo. As intervenções de Machado no debate público sobre literatura fornecem juízos valiosos sobre sua própria evolução como escritor e intelectual, além de um panorama cultural do Brasil sob o Segundo Reinado.
Publicadas na imprensa carioca entre as décadas de 1850 e 1870, estas amostras do pensamento crítico do futuro autor de Memórias póstumas de Brás Cubas permitem identificar algumas das linhas mestras da primeira fase de sua produção: a recusa enfática do realismo de Émile Zola e Eça de Queirós, a publicação seriada de contos e romances no formato de folhetim e, sobretudo, a aguda consciência de escrever num país cuja recente independência política ainda não havia se consumado numa efetiva independência literária.
5. “Africanos Livres” (2017)
Autora: Beatriz Mamigonian
Imagem: Grupo Companhia das Letras.
Em 7 de novembro de 1831, foi promulgada a lei que proibia a importação de escravos para o Brasil e punia todos os envolvidos na atividade. O avanço legal se devia, ao menos em parte, à pressão exercida pela Coroa britânica. Apesar de ter tido impacto importante no avanço do movimento abolicionista, a imposição sancionada seria, no fim das contas, “para inglês ver”.
Em “Africanos Livres”, Beatriz G. Mamigonian toma a lei de 1831 como o eixo narrativo, ao qual se imbricam a análise da experiência dos ex-escravos, de sua administração pelo governo imperial e dos efeitos do contrabando. Baseado em pesquisa inédita, o livro avança até a campanha abolicionista na década de 1880, quando os militantes mais radicais forçaram o reconhecimento de todos os africanos ilegalmente escravizados como “africanos livres”.
Sobre o Grupo Companhia das Letras
Imagem: Dot.Lib / Grupo Companhia das Letras.
Fundada em 1986, a editora paulista Companhia das Letras se tornou um grupo editorial a partir de sua junção com a carioca Objetiva, em 2015. É parte integrante do grupo Penguin Random House, atualmente o maior grupo editorial do Brasil e do mundo. Seu catálogo tem mais de 4 mil livros digitais em português dispostos em 15 selos editoriais entre os quais estão a Zahar, a Objetiva e a Alfaguara. Seu extenso conteúdo de excelência abrange as Ciências Humanas, Sociais, Artes e Literatura, atendendo às necessidades de bibliotecas de todos os públicos, do infantil até os pós-graduados.
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