A história por trás da vacina: hepatite B
Por ocasião da pandemia de COVID-19 nunca se falou tanto em vacinas e seus métodos para desencadear uma resposta imune suficiente que nos proteja. Assim como a vacina contra o novo coronavírus demonstra uma esperança de dias melhores para a humanidade, a vacina contra hepatite B faz parte do grupo de imunizantes que mudaram a história.
Além disso, representa muitas “primeiras vezes”. Ou seja, é a primeira vacina que recebemos ao nascer e normalmente é aplicada ainda na maternidade ou hospital dentro de 24 horas. Também é o primeiro imunizante contra um agente relacionado ao câncer de fígado e representou um marco na engenharia genética ao ser elaborada pela tecnologia de recombinação de DNA, um grande progresso na manufatura de vacinas.
A doença: hepatite B
A doença é transmitida pelo vírus VHB que infecta os hepatócitos, células do fígado.
Sua contaminação ocorre através de sangue contaminado (transfusões, uso de seringas ou agulhas não descartáveis), fluidos sexuais (relações sexuais desprotegidas) e via perinatal (gravidez, parto ou amamentação). Por esse motivo é muito importante realizar o pré-natal com exames rotineiros para detectar possíveis infecções.
A forma mais eficiente de prevenir a doença continua sendo a vacinação. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) pratica o esquema de quatro doses: ao nascimento e aos 2, 4 e 6 meses de vida que é recomendado inclusive pelas Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Os sintomas incluem dor abdominal, febre, dor nas articulações, perda de apetite, fraqueza, fadiga, icterícia (olhos e pele amareladas), náuseas, vômitos, diarreia e urina escura. A doença costuma desaparecer naturalmente, porém também pode assumir uma forma crônica com a necessidade de uso de medicamentos, ou conforme a complexidade do caso, pode precisar de um transplante de fígado.
Um pouco de história
A Hepatite B foi identificada em 1963 pelo geneticista Baruch Blumberg, ao isolar o que chamou de "Antígeno da Austrália" (agora chamado de HBsAg) no soro de um aborígene australiano. Essa descoberta possibilitou que fosse feita a primeira vacina contra hepatite B, através da obtenção do antígeno imunizante diretamente do sangue de portadores humanos do vírus, o que significou uma abordagem única para a produção de uma vacina.
Por esse feito, Blumberg recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina (compartilhado com Daniel Carleton Gajdusek por seu trabalho sobre kuru), em 1976.
Mais tarde, em 1981, uma vacina derivada do tratamento de plasma sanguíneo, formulada pela equipe do Dr. Maurice Hilleman, foi licenciada. Já em 1986, uma nova técnica que usava antígeno cultivado em leveduras, criada pelo bioquímico chileno Pablo DT Valenzuela, suplantou a fórmula anterior. Considerada um marco da engenharia genética, a vacina de Valenzuela é derivada da tecnologia de recombinação de DNA, um grande avanço para o desenvolvimento de vacinas.
Atualmente, a vacina usada na prevenção da doença contém uma das proteínas do vírus, o antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg), sendo produzida por células de levedura, nas quais o gene para HBsAg é inserido. A resposta imune ocorre quando os anticorpos do sistema imunológico para HBsAg são estabelecidos na corrente sanguínea, esse anticorpo é conhecido como anti-HBs e forma a memória do sistema imunológico contra a infecção.
Este artigo faz parte da série "A história por trás da vacina” e você pode conferir os outros dois posts “A história por trás da vacina: varíola” e “A história por trás da vacina: caxumba”.
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