Síndrome Inflamatória Multissistêmica e a COVID-19
Um tema que tem chamado a atenção da comunidade científica, de médicos e organizações de saúde é: a Síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C, sigla em inglês) causada pela COVID-19. No final de abril, foi emitido o primeiro alerta sobre o assunto pelo National Health Service (NHS, o serviço de saúde pública do Reino Unido), onde trouxe relatos do aumento de casos graves de crianças com sintomas atípicos em unidades de terapia intensiva (UTI) em Londres e em outras partes do país.
De acordo com as informações do Centro de Doenças e Controle dos Estados Unidos (CDC), os médicos do Reino Unido observaram um número elevado de casos de crianças — previamente saudáveis — com uma síndrome inflamatória grave. Porém, os casos registrados eram de pacientes que testaram positivo para a infecção respiratória atual e apresentaram fortes inflamações, com febre associada a reações dermatológicas, cardíacas e neurológicas.
No dia 15 de maio, um novo documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou o alerta e apresentou a relação de sinais de como identificar possíveis casos. O mesmo comunicado, traz a importância de caracterizar a síndrome e seus fatores de risco para compreender as causas e, assim, definir as melhores formas de tratamento desses pacientes.
Apesar da maioria das pesquisas mostrarem que as crianças são assintomáticas ou apresentam sintomas leves da infecção pelo SARS-CoV-2, diante dessa nova condição clínica cresceu a preocupação com esse grupo etário. Ficou interessado e quer entender melhor a MIS-C? A seguir conheça mais sobre a síndrome e confira os que os principais estudos — publicados em periódicos renomados da área médica — já identificaram sobre a relação dessa doença associada à COVID-19.
Efeitos da síndrome associada à COVID-19
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Primeiramente, vamos entender como é desencadeada a Síndrome inflamatória multissistêmica em crianças causada pelo vírus. Ela aparece semanas após a infecção pelo patógeno e os sintomas começam com manchas na pele (erupções cutâneas) e evoluem para problemas cardíacos, renais, neurológicos e pode levar até a morte. Além disso, apresenta febre persistente, acima de 38º e por mais de três dias. Neste caso, afeta crianças e adolescentes que foram infectados e assintomáticos.
A MIS-C é causada pela reação anormal do sistema imunológico ao coronavírus, com inflamação em vários órgãos e até nos vasos sanguíneos. Existe a redução na pressão sanguínea e faz com que o coração acelere para tentar compensar a queda, o que pode causar falência cardíaca nos casos mais graves.
Em comparação com a Síndrome de Kawasaki
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Inicialmente, essa condição foi comparada com a doença de Kawasaki — uma síndrome rara que afeta crianças menores de 5 anos, onde os vasos sanguíneos (vasculite) ficam inflamados por todo o corpo.
Os relatos iniciais que vieram da Europa e da América do Norte mostraram que crianças e adolescentes que necessitaram de internação em UTI com a síndrome inflamatória grave tiveram sintomas similares com os da doença de Kawasaki ou da síndrome do choque tóxico.
No entanto, algumas diferenças evidenciaram que se tratava de um “novo fenômeno”. A diferença principal identificada foi que a nova síndrome atinge, em sua maioria, crianças entre seis e doze anos de idade.
O artigo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) contribuiu para elucidar que se tratava de uma nova síndrome e analisou as diferenças entre a MIS-C e a síndrome de Kawasaki. De acordo com o estudo, a maioria das crianças com sinais de infecção apresentaram anticorpos para o vírus. Isso levou os pesquisadores a entenderem que a doença ocorreu após a COVID-19. Além disso, os pacientes apresentaram outros sintomas, como dores abdominais e diarreia com mais frequência e febre persistente.
O que apontam os estudos?
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Um estudo divulgado no periódico Radiology, da editora Radiological Society of North America (RSNA), avaliou que pacientes com a síndrome tiveram inflamação das vias áreas, rápido desenvolvimento de edema pulmonar, apresentaram inchaços das artérias do coração e grandes alterações inflamatórias intra-abdominais.
Os pesquisadores avaliaram documentos clínicos, laboratoriais e as imagens de raio-x dos pacientes — 35 voluntários (27 homens) com idade média de 11 anos. Os principais resultados do estudo foram: o sintoma mais comum foi a febre, que ocorreu em 33 casos; 30 crianças apresentaram sintomas gastrointestinais (dor abdominal, vômito e diarreia; as erupções cutâneas (13 crianças) e conjuntivite (9 crianças) foram manifestações menos comuns.
Eles observaram também que a parede brônquica dos pulmões estava mais espessa, na maioria dos exames de radiografia, e em muitas tomografias computadorizadas de tórax havia acúmulo de líquido nas membranas externas dos pulmões.
O periódico New England Journal of Medicine (NEJM) publicou também um artigo recente com a proposta de compreender a epidemiologia e as características clínicas da MIS-C e sua associação temporal com o novo coronavírus. O período avaliado para a pesquisa foi do dia 15 de março a 20 de maio de 2020, em centros de saúde pediátrica nos Estados Unidos.
O estudo teve como base seis critérios de avaliação: doença grave que levou à hospitalização, idade inferior a 21 anos, febre que durou pelo menos 24 horas, evidência laboratorial de inflamação, envolvimento de múltiplos sistemas e evidência de infecção por coronavírus baseada na reação em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR), teste de anticorpos ou exposição a pessoas com Covid-19.
Os resultados indicaram que a síndrome em crianças associada à SARS-CoV-2 ocasiona doenças graves — que envolvem danos a vários sistemas orgânicos — e com risco de vida em crianças e adolescentes predominantemente saudáveis.
Clique aqui para ler mais um artigo, publicado também no NEJM, que analisou casos da síndrome em Hospitais no estado de Nova York. Neste estudo, concluíram que a MIS-C coincidiu com a transmissão disseminada do novo vírus e apresentou manifestações dermatológicas, mucocutâneas e gastrointestinais associadas à disfunção cardíaca.
Orientações aos pediatras
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Em nota, os Departamentos Científicos de Infectologia e Reumatologia da Sociedade Brasileira de Reumatologia e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) enviaram orientações para os médicos pediatras. O documento apresenta uma relação com os principais sinais de alerta clínicos para o possível reconhecimento da síndrome, além dos marcadores laboratoriais de atividade inflamatória que os médicos precisam observar.
Segundo a nota de alerta da SBP, os pediatras precisam estar habilitados e preparados para o pronto reconhecimento desses casos e manejo adequado durante a hospitalização. “Em conclusão, os pediatras devem estar alertas para o pronto reconhecimento destes casos, incluindo crianças com febre prolongada e não esclarecida, possibilitando o reconhecimento e o manejo adequado e oportuno, durante a hospitalização nos serviços de emergência, enfermarias e/ou unidades de terapia intensiva”, finaliza o documento.
Clique aqui para ler a nota na íntegra.
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