O que se sabe sobre o coronavírus na gravidez
O aparecimento do SARS-CoV-2 tem conduzido pesquisadores de diversos países a iniciarem uma corrida contra o tempo para entender melhor o comportamento do patógeno. Até o momento, grandes descobertas já foram identificadas, possibilitando avanços no processo de produção de vacinas e tratamentos que auxiliam na minimização dos sintomas da doença. Apesar disso, ainda existem muitas dúvidas sobre a ação do vírus no organismo, principalmente, em mulheres grávidas.
Em abril, o Ministério da Saúde incluiu as gestantes e puérperas (que tiveram filhos nos últimos 45 dias) no grupo de risco da COVID-19 e a atenção com essa população foi redobrada. Por isso, entender como o novo coronavírus atua no organismo das gestantes se tornou objeto de estudo de várias pesquisas científicas. Os cientistas buscam respostas para questionamento como: "Qual a possibilidade de transmissão entre a mãe e o feto?" ou "Como prevenir esse grupo da infecção da COVID-19?
Com os estudos em andamento, a contaminação de recém nascidos e características clínicas de gestantes com a doença têm sido fatores que preocupam as mulheres grávidas ou aquelas que pretendem ter filhos. Pensando nisso, separamos as principais informações conhecidas, até o momento, sobre a relação existente entre a gravidez, recém-nascidos e a COVID-19.
1- Journal of the American Medical Association (JAMA)
Ainda não existem dados conclusivos a respeito de uma maior propensão de mulheres grávidas desenvolverem a COVID-19 de forma grave. De acordo com artigo publicado na JAMA Network, as gestantes podem ter esse risco agravado se associadas a outras doenças respiratórias. No entanto, não foi comprovado que essas mulheres sejam mais suscetíveis a desenvolver a forma grave da doença em relação ao restante da população.
Na China, os dados indicaram que os achados clínicos de mulheres que apresentaram infecção no terceiro trimestre da gestação não diferem de outros pacientes com a doença. Em contrapartida, um pequeno estudo sueco mostrou que mulheres grávidas e em pós-parto com a doença apresentaram um risco de serem internadas em UTI 5 vezes maior do que aquelas que não estão grávidas.
Com base em dados da infecção reportados na China, os pesquisadores observaram que algumas mães com a doença tiveram partos prematuros ou com baixo peso ao nascer (BPN). Porém, não se sabe se existe uma relação entre esses dois fatos.
Se durante a gravidez as informações são inconclusivas, quando relacionadas aos efeitos causados em recém-nascidos são ainda menos conhecidos. Ainda que existam casos reportados de recém-nascidos infectados nos primeiros dias de vida, não se sabe como ocorreu a infecção. Até o momento, as evidências mostram que a transmissão do vírus pode ocorrer no pré-natal, perinatal, pós-natal ou através da amamentação.
As recomendações feitas por especialistas para gestantes, mulheres que acabaram de dar à luz e àquelas que pretendem ter filhos é manter medidas de higiene e distanciamento social. A descoberta precoce da doença é essencial para que sejam seguidas as medidas de proteção e controle da infecção.
Saiba mais sobre a publicação no link.
2 - New England Journal of Medicine (NEJM)
Um estudo publicado no periódico New England Journal of Medicine (NEJM) analisou as características clínicas e demográficas de mulheres grávidas com a COVID-19. Os dados extraídos foram: características epidemiológicas, clínicas, laboratoriais e radiológicas, tratamento e resultados gestantes do sistema de notificação de epidemias da Comissão Nacional de Saúde da China.
Para a pesquisa, os cientistas avaliaram 118 mulheres, sendo 84 delas identificadas com a doença através do teste PCR e as 34 pacientes restantes tiveram achados sugestivos obtidos através de imagens de tomografia computadorizada. Em média, as gestantes tinham 31 anos, 55 de 106 nunca tiveram filhos e 75 de 118 foram infectadas pela doença a partir do terceiro trimestre de gestação.
Os resultados mostraram que 109 apresentaram a forma branda da doença e apenas 9 a grave, necessitando de intervenção respiratória em apenas 1 caso. Além disso, todas foram liberadas do hospital, mesmo aquelas que tiveram a doença em sua versão mais grave.
Segundo o estudo, há um ligeiro aumento no risco de desenvolver a COVID-19 em estado grave em mulheres grávidas. Os pesquisadores observaram ainda que o número elevado de doenças respiratórias registrado tem relação com o aumento do volume sanguíneo que ocorre durante o período da pós-gestação. Nos recém-nascidos foram realizados testes para identificação do vírus no organismo do bebê e no leite materno e os resultados não apresentaram positivo para doença.
3 - Wiley (Obstetrics and Gynaecology)
Um artigo publicado pela editora Wiley procurou analisar como ocorre a transmissão materna do novo coronavírus no recém-nascido. O objetivo é refutar ou confirmar o isolamento estrito após o nascimento do bebê e sua alimentação a partir de fórmulas. Estima-se que é grande o risco do bebê ser contaminado pela doença através do contato com a mãe (transmissão vertical), amamentação e tipo de parto.
A análise de dados foi realizada a partir de 49 estudos com recém-nascidos, incluindo o estado de saúde e suas formas de parto. Os pesquisadores observaram que a identificação da doença nesse grupo foi rara e não apresentou uma relação com o tipo de parto ou contato com o leite na amamentação.
Nos bebês identificados com a doença no pós-parto, a maior parte foi classificada como assintomática. No entanto, diversos estudos ainda precisam ser desenvolvidos com evidências robustas sobre esse tema.
O estudo original e completo você encontra no link.
4 - Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
Por conta dos dados ainda inconclusivos da relação entre gravidez e a COVID-19, a UNICEF Brasil publicou em seu portal uma série de dicas e protocolos a serem seguidos para evitar a transmissão e contágio pelo vírus.
A plataforma separou uma seção exclusiva para responder as principais dúvidas de gestantes no período de pandemia. As perguntas em questão foram feitas à presidente da Confederação Internacional de Parteiras, Franka Cadée, que incluem formas de proteger o bebê da exposição ao vírus, local mais seguro para dar à luz durante a pandemia, se a amamentação de bebês por mães que tiveram a doença pode causar problemas ao recém-nascido, entre outras.
Todas as informações disponíveis no portal são formuladas a partir de dados preexistentes sobre a doença e está sendo atualizado constantemente, conforme novas descobertas são feitas acerca do assunto.
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