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Conheça as principais características deste fenômeno meteorológico e saiba como o calor extremo por ele provocado pode impactar o Brasil e o mundo (imagem: iStock). Conheça as principais características deste fenômeno meteorológico e saiba como o calor extremo por ele provocado pode impactar o Brasil e o mundo (imagem: iStock).
El Niño e seus impactos no Brasil e no mundo
  • Artigo
  • Ciências Exatas e da Terra
  • 06/10/2023
  • Brasil, Calor, Clima, DotLib, El Niño, GeoScienceWorld, Meteorologia, Mudanças climáticas, Primavera, Verão

O fenômeno climático El Niño é uma das forças mais poderosas e imprevisíveis da natureza, com o potencial de causar estragos biológicos, sociais e econômicos significativos em escala global. Para se ter uma ideia, o fim do inverno e o início da primavera de 2023 no hemisfério sul foram marcados por temperaturas acima da média para o período no Brasil, uma característica típica do fenômeno.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) chegou a emitir um alerta de calor extremo para 11 estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Isso só ocorre quando há previsão de temperaturas 5 ºC acima da média histórica de regiões e períodos do ano específicos por, pelo menos, cinco dias consecutivos. De acordo com o órgão, o fenômeno meteorológico é caracterizado por “intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência sérios danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida humana”.

Pensando nisso, a equipe Dot.Lib preparou este artigo no qual exploraremos as principais características do El Niño, seu impacto no clima do Brasil e do mundo, e como as mudanças climáticas podem agravar seus efeitos. Vamos analisar como esse fenômeno natural afeta a vida cotidiana e por que é importante compreender as implicações das mudanças climáticas em sua intensificação.

O que é o El Niño

El Niño: uma parte do mapa mundi mostrando as dinâmicas oceânicas e atmosféricas sobre uma parte da Asia, da Austrália, da América do Norte e do Sul

Dinâmica do El Niño envolvendo o Oceano Pacífico, as correntes de ventos, a Ásia, a Austrália e as Américas do Norte e do Sul (imagem: iStock).

O El Niño é um fenômeno climático natural e recorrente que acontece no Oceano Pacífico. Ele é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais na região equatorial do Pacífico, especialmente nas proximidades da costa oeste da América do Sul. Esse aquecimento das águas tem efeitos significativos nas condições climáticas globais.

Geralmente esse evento meteorológico ocorre em intervalos irregulares, a cada dois a sete anos, e pode durar de vários meses a mais de um ano. O El Niño é uma parte integrante do que é conhecido como o Sistema El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que envolve interações complexas entre o oceano e a atmosfera — junto ao fenômeno El Niña, que tem efeito contrário uma vez que, nesta fase, o Pacífico Equatorial registra temperaturas mais frias do que sua média histórica.

É importante ressaltar o papel das correntes atmosféricas e oceânicas por trás do fenômeno climático, sendo a corrente Walker fundamental para o desenvolvimento do El Niño. Também conhecida como Circulação de Walker, ela é uma parte crucial do sistema de circulação atmosférica e oceânica que ocorre no Oceano Pacífico tropical.

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A corrente Walker é caracterizada por uma circulação de ventos alísios (ou constantes) que sopram dos oceanos em direção ao Oceano Pacífico central, ao longo da região equatorial. Esses ventos alísios movem-se geralmente do leste para o oeste, empurrando as águas superficiais do oceano na mesma direção. À medida que essas águas se movem para o oeste, são substituídas por águas mais profundas e frias que sobem à superfície, um processo conhecido como ressurgência.

A importância da corrente Walker no fenômeno El Niño reside em sua capacidade de influenciar as condições climáticas em grande parte do mundo. Em condições normais, quando a corrente Walker está ativa, os ventos alísios fortes e a ressurgência de águas frias mantêm a superfície do Oceano Pacífico central relativamente fria. Isso cria uma diferença de temperatura entre o Pacífico central e o Pacífico ocidental, conhecida como a “Termoclina Tropical”.

No entanto, durante o El Niño, a corrente Walker enfraquece ou até mesmo se inverte. Isso significa que os ventos alísios diminuem ou param de soprar, permitindo que as águas quentes da região oeste do Pacífico fluam para o leste, em direção ao Pacífico central. Isso resulta no aquecimento das águas superficiais do Pacífico central, interrompendo a Termoclina Tropical e causando mudanças significativas nos padrões climáticos globais.

Principais características do El Niño

El Niño: três imagens lado a lado contendo uma onda, o Planeta Terra no centro e um solo com erosões pela seca Imagem: Canva.

Aquecimento das águas do Pacífico: o El Niño é desencadeado pelo aquecimento das águas do Pacífico Central e Oriental. Esse aquecimento altera os padrões de circulação atmosférica, afetando o clima em várias partes do mundo.

Impacto nas chuvas e secas: uma das consequências mais visíveis do El Niño é a mudança nos padrões de chuva. Algumas regiões enfrentam chuvas intensas e inundações, enquanto outras experimentam secas severas.

Aumento das temperaturas: durante o El Niño, as temperaturas da superfície do mar podem aumentar até 3 graus Celsius acima do normal, causando uma série de efeitos climáticos.

Impacto no clima global

Secas na Austrália: este é um dos países que mais sofrem com o El Niño, cujas consequências são reverberadas em outros países do hemisfério sul. O fenômeno afeta especialmente a agricultura, a economia e o abastecimento de água potável, aumentando o risco de incêndios florestais.

Mudanças na precipitação na América do Sul: o El Niño pode causar chuvas intensas em algumas partes da América do Sul, levando a enchentes e deslizamentos de terra.

Aumento da atividade de furacões: O El Niño pode estar associado a um aumento na atividade de furacões no Oceano Atlântico e uma diminuição no Pacífico.

Redução da pesca no Pacífico: as águas mais quentes do Pacífico afetam negativamente a pesca comercial, afetando as populações de peixes e prejudicando a economia de países dependentes da pesca.

Impacto na agricultura: as mudanças nos padrões de chuva causadas pelo El Niño podem afetar a produção agrícola, levando a perdas de colheitas em algumas áreas e condições favoráveis em outras.

Impacto no clima do Brasil

El Niño: três imagens lado a lado contendo um solo com erosões pela seca, alagamento de uma rua e um termômetro registrando altas temperaturas

Piora da seca no Nordeste brasileiro, chuvas intensas e alagamentos no Sul e Sudeste e altas temperaturas em todo o país (imagem: Canva.

No Brasil, o El Niño tem várias implicações, sendo que as principais são:

Secas no Nordeste: o fenômeno geralmente resulta em secas mais severas no Nordeste brasileiro, região já conhecida por ser a mais quente do Brasil, afetando a disponibilidade de água potável, a agricultura e a economia como um todo. De acordo com uma matéria do Diário do Nordeste, as grandes plantações de grãos foram fortemente impactadas pelo clima extremamente seco em 2023 — especialmente na Bahia, no Maranhão e no Piauí — com quedas na produção de soja (23%, 40% e 65%, respectivamente) e milho (48%, 40% e 31%, respectivamente).

Chuvas intensas no Sul: por outro lado, o Sul do Brasil pode experimentar chuvas excessivas, causando inundações e deslizamentos de terra.

Temperaturas mais elevadas: o El Niño também pode levar a temperaturas mais elevadas em várias partes do país afetando, entre outras áreas, a saúde. Segundo matéria da CNN Brasil, o estado de São Paulo registrou cinco óbitos e 312 atendimentos ambulatoriais e internações relacionadas à exposição ao calor contra 154 no mesmo período de 2022.

Mudanças climáticas e o El Niño

As mudanças climáticas estão tornando o El Niño ainda mais imprevisível e potencialmente mais destrutivo. O aquecimento global pode intensificar as características do El Niño, tornando-o mais frequente e prolongado. Isso aumenta o risco de eventos climáticos extremos em todo o mundo, tornando ainda mais crucial a adoção de medidas para mitigar as mudanças climáticas.

Além disso, um estudo publicado em um importante periódico especializado em Ciências Climáticas mostrou que os períodos que compreendem tanto o El Niño quanto a El Niña podem ficar mais longos à medida que o aquecimento global avança. Para isso, os pesquisadores dos Estados Unidos e da Austrália reconstruíram a linha do tempo da atmosfera da Terra nos últimos 800 anos.

Eles revisitaram a Revolução Industrial — época em que a humanidade começou a produzir mais gases do efeito estufa — e analisaram suas implicações nos fenômenos climáticos. Uma das primeiras descobertas é a de que o intervalo entre os eventos meteorológicos reduziu ao longo dos anos, com mais de um ano de duração e, por vezes, até se emendando ou se repetindo por dois a três anos.

Para se aprofundar no assunto

Muitas das informações contidas neste artigo foram retiradas de artigos científicos publicados nos periódicos da GeoScienceWorld, uma organização sem fins lucrativos formada por um grupo de sociedades geocientíficas líderes no mundo. Seu propósito é fazer com que a realização de pesquisas no campo das Geociências e áreas correlatas seja simples e economicamente viável por meio da internet.

El Niño: logo da GeoScienceWorld sobreposto ao fundo com imagens representando as quatro estações

Imagem: GeoScienceWorld / Dot.Lib.

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Além disso, a GeoScienceWorld já tem mais de 165.000 artigos publicados em 47 periódicos de ponta editados por 29 editoras e sociedades líderes no campo das geociências. Os conteúdos estão totalmente integrados ao GeoRef, a mais completa base de dados bibliográficos em Ciências da Terra.

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