Maio Roxo: campanha contra as doenças inflamatórias intestinais
A incidência das chamadas doenças inflamatórias intestinais (DII) no Brasil vêm aumentando a cada ano. Isso ocorre, em parte, pela dificuldade no diagnóstico e na adesão ao tratamento dessas condições, que são crônicas e originárias do próprio organismo. Para se ter uma ideia, o maior estudo brasileiro já realizado sobre o tema até o momento apontou que a prevalência das DIIs aumentou 15% em um período de nove anos, com 100 casos a cada 100 mil habitantes.
Considerando a seriedade do tema e sua relevância para a qualidade de vida da população em geral, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) criou a campanha Maio Roxo, cujo marco é 19 de maio, o Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal. Por sua vez, a data foi idealizada por organizações de pacientes presentes em mais de 50 países e coordenada internacionalmente pela Federação Europeia de Associações de Doença de Crohn e Colite Ulcerativa (EFCCA).
O roxo possui vários significados dentro da psicologia das cores; entretanto, no contexto da campanha, a cor representa o conhecimento, que é necessário para um combate efetivo a essas doenças. Além disso, o roxo também representa respeito e sensibilidade às pessoas afetadas, que necessitam da compreensão e dos cuidados não só médicos, mas de seus familiares, amigos e conhecidos.
Uma vez exposto o contexto e a importância da campanha, a Dot.Lib preparou este artigo para sanar as principais dúvidas quanto aos tipos, sintomas, formas de diagnóstico e tratamentos das doenças inflamatórias intestinais. A seguir, conheça a definição médica de DIIs e quais são as mais prevalentes.
O que são as doenças inflamatórias intestinais?
Imagem: Canva.
As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) são um grupo de condições crônicas que causam inflamação no trato gastrointestinal. Essa inflamação ocorre devido a uma resposta imunológica anormal, que pode se apresentar nas seguintes formas:
- Disbiose: em indivíduos saudáveis, o sistema imunológico mantém um equilíbrio com a microbiota intestinal, respondendo apenas aos patógenos (agentes causadores de doenças) e ignorando os microrganismos benéficos. No entanto, fatores como dieta pobre, uso excessivo de antibióticos e infecções e até mesmo mutações genéticas podem desequilibrar a microbiota intestinal, causando a disbiose, que é uma resposta imunológica inadequada;
- Barreira intestinal comprometida: o revestimento do trato gastrointestinal atua como uma barreira física e imunológica. Quando essa barreira está comprometida (devido a disbiose ou outros fatores), microrganismos e toxinas podem atravessar a mucosa intestinal e ativar células imunológicas;
- Ativação de células imunológicas: as células dendríticas são responsáveis por detectar patógenos e apresentam antígenos às células T (um tipo de célula imunológica). Quando ativadas de forma inadequada, as células T podem produzir citocinas pró-inflamatórias, substâncias que promovem a inflamação;
- Produção de citocinas pró-inflamatórias: nesse caso, as citocinas como TNF-α (fator de necrose tumoral alfa), IL-1, IL-6 e IL-12 são liberadas em excesso e recrutam mais células imunológicas para o local da inflamação, intensificando a resposta inflamatória;
- Dano tecidual: a inflamação resulta em danos ao tecido do intestino, que pode ser limitado à mucosa ou penetrar todas as camadas da parede intestinal. Por ser crônica, tanto a inflamação quanto a ativação imunológica são cíclicas — ou seja, um processo provoca o retorno de outro e vice-versa.
Uma vez compreendido o mecanismo por trás das doenças inflamatórias intestinais, vamos conhecer as duas DIIs mais prevalentes no Brasil e no mundo: a colite ulcerativa e a Doença de Crohn.
Colite ulcerativa
Ilustração de um trato intestinal com colite ulcerativa (imagem: iStock).
De acordo com o BMJ Best Practice, a colite ulcerativa “é um tipo de doença inflamatória intestinal que tipicamente envolve o reto e se estende em direção proximal, afetando uma extensão variável e contínua do cólon. Pode ser causada por diversos fatores que incluem os ambientais, a disfunção imune e uma provável predisposição genética, todos descritos em detalhes acima”.
Nesta condição, a parte mais afetada é a camada interna do cólon, também conhecida como epitélio da mucosa intestinal. O processo inflamatório gera pequenas úlceras ou erosões na mucosa, que causam secreção de muco e sangramento. Essas fissuras permitem que neutrófilos, linfócitos e macrófagos se infiltrem na região afetada, aumentando o dano tecidual e potencializando a inflamação.
Esse ciclo também pode gerar alterações na estrutura do intestino, sendo a criptite e os abscessos crípticos — quando os neutrófilos invadem as criptas intestinais, formando abscessos — as mais características na colite ulcerativa. A redução nas células calciformes, fundamentais na produção do muco, e a depleção da mucina (substância que protege o epitélio), tornam a mucosa ainda mais vulnerável.
As complicações em médio e longo prazos incluem: megacólon tóxico (dilatação aguda e potencialmente fatal do cólon associada a inflamação severa), hemorragia resultante de úlceras profundas, perfuração intestinal, risco de risco de displasia e de carcinoma colorretal.
Principais sintomas
- Diarreia com sangue: devido às úlceras e inflamação, há perda de sangue nas fezes;
- Dor abdominal e cólica: resultante da inflamação e espasmos musculares;
- Urgência e tenesmo: sensação frequente e urgente de evacuar, muitas vezes com sensação de evacuação incompleta;
- Fadiga e perda de peso: devido à inflamação crônica e má absorção de nutrientes.
Doença de Crohn
Ilustração de um trato intestinal com Doença de Crohn (imagem: iStock).
A Doença de Crohn (DC) é definida pelo BMJ Best Practice como “um distúrbio de etiologia desconhecida caracterizado por inflamação transmural, envolvendo algumas ou todas as partes do trato gastrointestinal, da boca até a área perianal, embora geralmente seja observada nas regiões perianal e íleo terminal”. Nesta condição, as áreas lesionadas são intercaladas com áreas saudáveis, onde a mucosa ainda está presente (também conhecidas como “padrão salteado” ou “skip lesions”, em inglês).
Algo característico da DC é o surgimento de granulomas, que são agregados de células inflamatórias observados nas biópsias. Em muitos casos, a inflamação causa fibrose ou estenose, que é o estreitamento do lúmen intestinal, sendo que ambas podem levar a obstrução intestinal. Outras complicações incluem: perfuração dos tratos sinusais e posterior penetração na serosa, causando perfurações, abcessos e fístulas.
Principais sintomas
- Diarreia: pode ser crônica e, ocasionalmente, com presença de sangue;
- Dor abdominal: frequente e intensa, geralmente no quadrante inferior direito (associada à inflamação do íleo);
- Perda de peso: devido à má absorção de nutrientes e perda de apetite;
- Fadiga: relacionada à inflamação crônica e desnutrição;
- Febre: frequente em surtos agudos;
- Náusea e vômitos: especialmente se houver estenose ou obstrução intestinal;
- Fístulas: conexões anormais entre diferentes partes do intestino ou entre o intestino e outros órgãos.
Uma aliada no diagnóstico
Imagem: Dot.Lib / BMJ Best Practice / BMJ Group.
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