História por trás da vacina: BCG
A COVID-19 mobilizou toda a atenção da sociedade para a importância da imunização, permitindo ainda manter erradicadas diversas doenças infecciosas que outrora também se tornaram pandêmicas. No mesmo período, entretanto, a imunização contra outras doenças cuja prevenção também se dá pelas vacinas foi deixada de lado.
Conforme noticiado no portal do Instituto Butantan, os dados do DATASUS do Ministério da Saúde mostram que a cobertura vacinal do Brasil está em queda há dez anos — especialmente entre as crianças que, em 2021, teve apenas 60,7% do público imunizado.
No dia nacional da vacina BCG, a equipe Dot.Lib traz uma breve história sobre o desenvolvimento do imunizante que ajudou a salvar milhões de vidas pelo mundo ao longo de um século. Além disso, é possível conferir as principais informações sobre a tuberculose — doença a qual se destina a vacina BCG — e um panorama sobre a enfermidade durante a pandemia de COVID.
História
Albert Calmette, um dos criadores da vacina BCG (imagem: Canva).
Após 39 anos da descoberta do bacilo de Koch — ou Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose — o veterinário e imunologista francês Camille Guérin descobriu que era possível ser imune a doença por meio dos próprios bacilos vivos da tuberculose no sangue. A partir desse achado e junto a Guérin, o também imunologista francês Albert Calmette passou a desenvolver pelo Instituto Pasteur uma vacina contra a tuberculose por meio da técnica de atenuação.
Assim, eles desenvolveram cepas atenuadas da bactéria Mycobacterium bovis por meio de um substrato contendo suco biliar; como o nome sugere, o bacilo é de origem bovina e sua estrutura é semelhante à versão humana. Após 13 anos de estudos e testes, o resultado: a vacina do bacilo de Calmette-Guérin (ou BCG).
Em 1921, um recém-nascido — cuja mãe veio a óbito por tuberculose — foi o primeiro humano a ser inoculado com o fármaco, que ainda era administrado em gotas. Essa e outras aplicações da BCG foram bem-sucedidas, resultando na queda de casos de tuberculose e na ampliação da vacinação para além da França; foi o que aconteceu, mas nem tudo foram flores.
Em 1930, ocorreu o que ficou conhecido como o Desastre de Lübeck: das 249 crianças alemãs vacinadas com a BCG durante a primavera do hemisfério norte, 73 morreram meses após a inoculação. A tragédia foi parar nos tribunais e o veredicto final foi que o lote aplicado estava contaminado com uma cepa virulenta do bacilo de Köch. No entanto, a fórmula original do imunizante (com o vírus atenuado) foi isenta de qualquer culpa sobre o ocorrido, uma vez que novos testes foram realizados e acabaram por comprovar sua segurança e eficácia — quatro em cada cinco imunizados estavam comprovadamente protegidos.
Sobre a doença
Exame de imagem de um pulmão afetado pela tuberculose (imagem: Canva).
Desde o princípio, vacina BCG foi formulada para combater os tipos mais graves de tuberculose, que são:
- Tuberculose miliar: o termo “miliar” se deve às lesões do tamanho de um milho-painço. Esse tipo ocorre quando uma grande quantidade do bacilo Mycobacterium tuberculosis se espalha pelo corpo por meio da corrente sanguínea, frequentemente afetando o pulmão, mas podendo se espalhar por vários órgãos, inclusive o pericárdio (membrana que envolve o coração) e as meninges (tecido que recobre o cérebro). Pode se manifestar por diversos sintomas, sendo difícil de identificar, porém comumente apresenta febre, dificuldade de respirar e fraqueza. Tende a afetar crianças abaixo dos 4 anos, idosos e pessoas imunossuprimidas.
- Meningite tuberculosa: é considerada uma das versões mais graves de tuberculose. Possui três estágios — com risco de convulsão em todos — sendo o primeiro marcado por febre, anorexia, fraqueza e até mudanças súbitas de humor; no segundo estágio, é possível observar sinais de dano cerebral, como irritação meníngea, paresias, distúrbios da fala, entre outros; no terceiro estágio (ou fase terminal), começam as alterações no ritmo cardiorrespiratório, perturbação da consciência e até indução ao coma.
Ambos os tipos são conhecidos como tuberculoses extrapulmonares e não são transmissíveis, a menos que estejam relacionados à versão pulmonar (a mais comum). O tratamento pode durar meses e, geralmente, é feito com um ou vários antibióticos, a depender do caso. A melhor forma de prevenção é a vacina BCG, quase sempre aplicada em recém-nascidos ou até os 5 anos de vida.
Cenário durante a pandemia de COVID-19
Imagem: Canva
Durante certo período, a pandemia de COVID-19 mascarou a incidência de outras doenças por diversos motivos:
1) Semelhança e/ou confusão de alguns sintomas do coronavírus com os de outras doenças;
2) Indisponibilidade e/ou incapacidade de atendimento dos serviços públicos de saúde e consequente queda nos diagnósticos;
3) Receio de contrair a COVID na busca pela imunização contra outras doenças ou de quebrar restrições vigentes à época, como lockdown e isolamento social.
De acordo com o Global Tuberculosis Report 2021, um relatório produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de COVID-19 reverteu anos de progresso global na redução do número de pessoas que morrem de tuberculose em todo o mundo, com o primeiro aumento anual (de 5,6%) desde 2005 e o número total de óbitos em 2020 retornando ao nível de 2017.
No Brasil, cerca de 69 mil casos de tuberculose foram notificados em 2020, com 4,5 mil óbitos registrados. Em 2021, foram registrados 68.271 casos da doença. A OMS estima que o número de óbitos pela entre 2020 e 2022 pode ser ainda maior que o registrado, devido à queda no número de diagnósticos durante o período.
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