Epistemologia: o que é e qual a sua importância
A Epistemologia é o ramo da Filosofia que estuda a natureza do conhecimento (incluindo o científico), também conhecido como Teoria do Conhecimento. Entre suas abordagens estão a origem do conhecimento, a justificativa para sua existência, a discussão sobre as crenças ou sistemas de crenças que o embasam, bem como seus limites e paradoxos. É importante lembrar que esta ciência também se ocupa em entender não apenas o conhecimento, mas também o que acreditamos ser verdade.
A palavra “Epistemologia” se origina do grego: “episteme”, que significa “conhecimento”, e “logos”, que significa “palavra” — neste caso, toma o sentido de “estudo” ou “ciência”. Esta designação foi usada pela primeira vez pelo filósofo escocês James Frederick Ferrier, que integrou a Epistemologia como parte da Gnosiologia, focado apenas no conhecimento científico.
Foi com os filósofos clássicos Aristóteles, Platão e Sócrates que a Epistemologia tomou corpo quando cada um deles criou um método que parte dos mitos para explicar suas próprias ideias e concluí-las de modo racional.
Objetivos da Epistemologia
Em linhas gerais, a Epistemologia é o conhecimento do conhecimento humano, entretanto, a definição é vaga. Para entender o que de fato faz esta ciência e sua importância, é necessário:
1) Definir o conhecimento: aqui, deve-se distinguir o verdadeiro saber de uma opinião (ainda que fundamentada) sobre qualquer tema.
2) Buscar as fontes do conhecimento: esta é a parte em que é traçado o percurso do conhecimento, ou seja, qual caminho ele percorreu desde sua origem até a sua apreensão na mente das pessoas de um indivíduo. Dessa forma, é possível saber quais fontes são confiáveis e quando podemos usá-las.
3) Identificar os limites do conhecimento: cada pessoa ou cada grupo possui fatores limitantes no processo de apreensão do conhecimento. Nesta parte, é necessário buscar a realidade de determinado assunto e identificar quais são os limites para conhecê-lo.
Principais pensadores
Ao longo da história da humanidade, vários pensadores criaram métodos para tentar atingir os objetivos resumidamente listados acima. A seguir, veja os principais pensadores da Epistemologia.
Platão (428/427 a 348/347 a.C, aproximadamente)
Estátua do filósofo grego Platão (Imagem: iStock).
Em linhas gerais, a teoria platônica do conhecimento contém duas partes: primeiro, uma investigação sobre a natureza dos objetos imutáveis; segundo, uma discussão de como esses objetos podem ser conhecidos através da razão. A investigação de Platão sobre objetos imutáveis começa com a observação de que cada faculdade da mente apreende um conjunto único de objetos: a audição apreende sons, a visão apreende imagens visuais, o olfato apreende odores e assim por diante. De acordo com o filósofo grego, conhecer também é uma faculdade mental e, portanto, deve haver um conjunto único de objetos que ele apreende.
Aristóteles (384 a 322 a.C, aproximadamente)
Estátua do filósofo grego Platão (Imagem: iStock).
Para Aristóteles, todo conhecimento começa nos sentidos ou nas sensações e permanece retido na memória. É a partir daí que são criadas experiências nas quais são estabelecidas as relações entre o que é sentido e o que está retido na memória. Por meio delas, é possível elaborar conceitos e, com a repetição de dados sensoriais, o homem cria conclusões e expectativas.
Em seguida vem a técnica (ou a “techné”), que significa saber “o porquê das coisas”. Neste ponto, devem ser descobertas e entendidas as regras que permitem (ou não) chegar a determinados resultados. Assim sendo, para o filósofo clássico, quem conhece a “techné” está à frente de quem apenas a copia ou a possui.
A episteme é a última e mais avançada etapa do conhecimento na visão aristotélica, uma vez que constitui o conhecimento do real no modo mais abstrato e genérico. Nesta parte, o homem busca o conhecimento por livre e espontânea vontade, por curiosidade, sem necessariamente o colocar em prática (ação).
Jean Piaget (1896 a 1980)
Diferentemente de Platão, o filósofo sueco Piaget acredita que o conhecimento pode ser construído por meio de experiências sensoriais, especialmente na primeira infância. Esta é uma das quatro fases que constituem o que ele denominou como “Epistemologia genética” em seu livro homônimo, publicado em 1970. Estas fases são:
- Sensorial-motora: do nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade, a criança ainda não desenvolveu a linguagem. No entanto, é neste ponto que a apreensão do conhecimento se dá por estímulos internos e externos (ou seja, ação e percepção). Para Piaget, é nessa fase que a criança começa a ter noções básicas de tempo e espaço, ação e causa e de diferenciação entre meios e fins.
- Pré-operatória: a partir dos três anos e até aproximadamente os oito, a criança entra em um estágio no qual inicia o desenvolvimento da linguagem e dos simbolismos. No entanto, ainda tem dificuldades de perceber os pontos de vista de outras pessoas, se não pelos dela própria.
- Operatória concreta: nesta fase, que se inicia por volta dos oito anos, a criança já tem poder de ação no mundo. Ou seja, ao absorver o conhecimento, ela o coloca em prática já tendo assimilado (ainda que basicamente) as normas naturais ou sociais por trás de sua ação.
- Operatória abstrata: por volta dos 11 ou 12 anos, o jovem já é capaz de fazer raciocínios hipotético-dedutivos. Segundo Piaget, por meio dessa capacidade de raciocinar, já é possível “a constituição de uma lógica 'formal', aplicável a qualquer conteúdo”.
Karl Popper (1902 a 1994)
De acordo com o filósofo britânico nascido na Áustria, o conhecimento evolui da experiência da mente. A principal contribuição de Popper para a filosofia da ciência repousa em sua rejeição do método indutivo nas ciências empíricas. De acordo com essa visão, uma hipótese científica pode ser testada e verificada pela obtenção do resultado repetido de observações fundamentadas. No entanto, o empirista escocês David Hume havia mostrado que apenas um número infinito de tais resultados confirmatórios poderia provar que a teoria estava correta.
Popper argumentou, em vez disso, que as hipóteses são validadas dedutivamente pelo que ele chamou de “critério de falseabilidade”. Sob este método, um cientista procura descobrir uma exceção observada à sua regra postulada. A ausência de evidências contraditórias torna-se, assim, a corroboração de sua teoria. Ele considera que a astrologia, a metafísica, a história marxista e a psicanálise freudiana são pseudociências uma vez que, por não serem empíricas, são falhas em aderir ao princípio da falseabilidade.
Thomas Kuhn (1922 a 1996)
Físico de formação, os estudos do norte-americano Thomas Kuhn eram mais focados no conhecimento científico e em seu desenvolvimento, especialmente nas consideradas ciências naturais (como a física, a química, entre outras). Ele acreditava que, para estruturar a ciência e seu respectivo conhecimento, é necessário partir de um paradigma; ou seja, na concordância (ou consenso) da comunidade científica em torno de questões fundamentais: qual feito deve ser investigado, qual método de investigação deve ser aplicado e quais soluções devem ser encontradas.
O paradigma guiará a investigação científica, ou o que Kuhn chama de ciência normal. Esse tipo de ciência se desenvolveria por fomento ou com base em uma ou mais descobertas científicas anteriores, sendo assim um progresso científico linear e cumulativo. Quando o progresso científico deixa de ser cumulativo, há uma quebra no paradigma e outro é posto no lugar, num processo que a epistemologia kuhniana chama de revolução científica.
A visão epistemológica do modelo kuhniano sofreu duras críticas por parte dos estudiosos da Teoria do Conhecimento, sendo uma delas o uso do termo “paradigma” em sentido ambíguo. De acordo com a linguista e filósofa britânica Margaret Masterman (1975), Kuhn utilizou a palavra de, pelo menos, 22 maneiras diferentes no seu livro “Estrutura das revoluções científicas”. Mais tarde o autor reconheceu o amplo mal-entendido e o esclareceu no posfácio.
5 livros sobre Epistemologia
Veja, a seguir, uma lista com cinco dicas de livros sobre Epistemologia, que abordam desde os fundamentos básicos até as diferentes perspectivas e teorias dentro desta Ciência. Todos têm o selo de publicação e qualidade da nossa editora parceira Brill, que há mais de três séculos se dedica às publicações acadêmicas nas mais variadas áreas do conhecimento.
1) Hinge Epistemology (“Epistemologia de dobradiça”)
(Imagem: Brill)
Nesta obra, epistemólogos eminentes investigam o conceito de certeza básica de Wittgenstein ou “certeza de dobradiça”. O volume começa examinando as características salientes das "dobradiças" (que neste caso, são uma metáfora): são proposições que gozam de um tipo especial de justificação não evidencial? São objetos de conhecimento ou modos de agir confundidos com proposições conhecidas?
Várias tentativas são, então, feitas para integrar dobradiças no desenvolvimento de uma Epistemologia viável: elas podem lançar luz sobre as condições de satisfação por conhecimento e justificação? Eles oferecem uma solução para o ceticismo? Finalmente, a aplicação de dobradiças é explorada em áreas como conhecimento comum e lealdade intelectual. A obra atesta a importância da certeza de dobradiça e Wittgenstein para a Epistemologia dominante.
2) Non-Evidentialist Epistemology (“Epistemologia Não-Evidencialista”)
(Imagem: Brill)
Esta é a primeira coleção editada inteiramente dedicada à Epistemologia não evidencialista ou não evidencialista: a visão de que a evidência não é necessária para que as atitudes doxásticas desfrutem de um status epistêmico positivo. A crença ou aceitação pode ser epistemicamente justificada, garantida ou racional sem evidência.
O volume é dividido em três seções: a primeira se concentra na “Epistemologia de dobradiça”, a segunda oferece uma reflexão crítica sobre epistemologias evidencialistas e não-evidencialistas e a terceira explora extensões do não-evidencialismo aos campos da Psicologia Social, Psiquiatria e Matemática.
3) Epistemology and the Social (“Epistemologia e o Social”)
(Imagem: Brill)
A Epistemologia teve de chegar a um acordo com o “social” em duas ocasiões diferentes. A primeira foi representada pela disputa sobre o status epistemológico das ciências “sociais” e, nesse caso, a já bem estabelecida Epistemologia das ciências naturais parecia ter o direito de ditar as condições para que uma disciplina fosse uma ciência. Mas as ciências sociais puderam reivindicar com sucesso a legitimidade de seus critérios específicos de cientificidade.
Mais recentemente, o impacto dos fatores sociais na construção do nosso conhecimento (incluindo o científico) reverteu, em certo sentido, a antiga posição e promoveu a investigação social ao papel de critério de avaliação do significado de conhecimentos cognitivos. Mas isso minou as características tradicionais de objetividade e rigor que parecem constitutivas da ciência.
Além disso, para estabelecer a extensão real em que os condicionamentos sociais têm impacto no conhecimento científico, é preciso creditar à sociologia uma base sólida de confiabilidade, e isso não é possível sem uma avaliação epistemológica preliminar. Esses são alguns dos tópicos discutidos neste livro, tanto teórica quanto praticamente, com referência a casos concretos.
4) When Historiography Met Epistemology (“Quando a Historiografia conheceu a Epistemologia”)
(Imagem: Brill)
Em “When Historiography Met Epistemology”, o autor Stefano Bordoni mostra o surgimento de sofisticadas histórias e filosofias da ciência nos países de língua francesa na segunda metade do século XIX. Esse processo envolveu matemáticos, cientistas e filósofos e esteve profundamente ligado a outros processos que transformaram a paisagem cultural e material da Europa.
Na Literatura, o surgimento da História e da Filosofia da Ciência está cronologicamente associado à virada do século XX: o autor aponta que esse significativo ponto de partida deve ser retrocedido. Desde a década de 1860, histórias sofisticadas da Ciência e observações metateóricas críticas sobre a prática científica começaram a competir com reconstruções históricas ingênuas e visões dogmáticas sobre a ciência.
5) Naturalized Epistemology and Philosophy of Science (“Epistemologia Naturalizada e Filosofia da Ciência”)
(Imagem: Brill)
Muito aconteceu no campo da Epistemologia contemporânea desde a publicação de “Epistemologia Naturalizada”, de Quine, em 1969. Mesmo antes do filósofo da ciência Ronald Giere publicar seu artigo “Filosofia da Ciência Naturalizada”, a Filosofia da Ciência Naturalizada foi influenciada pela chamada “abordagem histórica”.
Autores como Kuhn, Lakatos, Feyerabend e Laudan contribuíram de forma importante para essa tendência. Sob essa luz, emergiu, sem dúvida, que a Filosofia da Ciência está intimamente relacionada à Epistemologia. Este volume explora algumas das relações relevantes e será de interesse para epistemólogos e filósofos da ciência.
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