Conheça as pioneiras da ciência no Brasil - Parte 1
A história das mulheres na ciência brasileira avançou a partir da segunda metade do século XX, quando surgiu a necessidade crescente de pessoas que atuassem em setores estratégicos, como o meio científico. Assim, a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres permitiram a elas o acesso, cada vez maior, à educação científica e a carreiras, tradicionalmente, ocupadas pelo sexo masculino.
No Brasil, a partir dos anos de 1970, as mulheres venceram a luta pelo direito ao ensino superior e cresceu a participação feminina nas universidades brasileiras. Em 1991, o censo demográfico mostrou que as mulheres brasileiras tinham mais anos de escolaridade que o sexo masculino, porém a luta por igualdade continuava, seguindo até os dias atuais.
Diante deste cenário de séculos de luta por igualdade e direito à educação científica e à carreira, historicamente, ocupadas por homens, apareceram as primeiras mulheres que conseguiram quebrar esse paradigma.
Em “Pioneiras da Ciência do Brasil”, levantamento desenvolvido pela professora Hildete Pereira de Melo, do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, e da professora Ligia M. C. S. Rodrigues, do Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas, publicado em 2006, traz a história de 19 pesquisadoras e cientistas brasileiras que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento científico no país. Dentre os perfis apresentados, destacamos 5 deles para contar sobre as suas carreiras e contribuições na difusão e avanço da ciência.
1 - Bertha Lutz (1894 - 1976) | Bióloga e ativista feminista
Em 2 de agosto de 1894, nasceu em São Paulo Bertha Maria Júlia Lutz, filha do cientista e pioneiro da Medicina Tropical, Adolfo Lutz, e da enfermeira inglesa Amy Fowler. Estudou na Europa, onde em 1918 se formou no curso de Ciências da Universidade de Sorbonne, em Paris, e retornou para o Brasil.
Desde o seu regresso, aos 24 anos, tornou-se uma defensora dos direitos da mulher, com grande participação nos movimentos feministas no Brasil no início do século XX. Em 1919, juntamente com outras mulheres criou a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher e como presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) liderou a campanha sufragista — o direito de votar — no país, conquista alcançada em 1932.
Bertha atuou por 40 anos no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, como docente e pesquisadora. Ela foi a segunda mulher a ingressar como funcionária pública no Brasil. Além disso, foi reconhecida internacionalmente por sua valiosa contribuição na pesquisa zoológica, especificamente de espécies anfíbias brasileiras. A bióloga e ativista faleceu no Rio de Janeiro no dia 16 de setembro de 1976.
2 - Graziela Maciel Barroso (1912 - 2003) | Botânica
Conhecida como a “primeira grande dama da botânica”, Graziela Maciel Barroso nasceu em 1912, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, época em que as mulheres eram educadas para serem donas de casa. Aos 16 anos, ela se casou com o agrônomo Liberato Joaquim Barroso — que foi seu grande incentivador para retornar aos estudos com 30 anos.
Ela foi a primeira mulher a fazer o concurso para ser naturalista do Jardim Botânico, obtendo o segundo lugar e, a partir de 1946 trabalhou ao lado do seu marido em sistema botânica. Aos 47, ingressou no curso de Biologia da Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ). Em 1973, aos 60 anos, defendeu sua tese de doutorado.
Graziela lecionou por mais de 50 anos, sendo professora de quase todos os botânicos brasileiros. Sua obra mais conhecida e considerada uma referência mundial na área da botânica é o livro “Sistemática de angiospermas do Brasil”. Em sua homenagem, mais de 25 espécies vegetais foram batizadas com o seu nome. A botânica faleceu em 5 de maio de 2003, praticamente um mês antes da data que estava marcada para sua posse na Academia Brasileira de Ciência, no dia 4 de junho.
3 - Sonja Ashauer (1923 - 1948) | Física
Filha de pais de origem alemã, a física Sonja Ashauer nasceu em 9 de abril de 1923, em São Paulo. Ela marcou a ciência brasileira e mundial com o seu talento extraordinário para a física teórica, num mundo ainda extremamente hostil ao desempenho feminino.
Em 1942, formou-se em física pela USP e foi a segunda mulher a concluir o curso no Brasil. Seis anos depois, em fevereiro de 1948, tornou-se também a primeira a concluir o Doutorado em Física pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Sua tese estudava os problemas em elétrons e radiação eletromagnética, assunto pioneiro para a época.
Na Europa, ela teve contato com os maiores físicos da época, participou de encontros de Física com grandes nomes como: Born, Schrödinger, Wheeler, e Hackett. No entanto, sua carreira foi encerrada precocemente, aos 25 anos. Em 21 de agosto de 1948, meses após o seu retorno do exterior, Sonja faleceu vítima de “bronco pneumonia, miocardite e colapso cardíaco” — causa mortis do seu atestado de óbito.
4 - Elza Furtado Gomide (1925-2013) | Matemática
Elza Furtado Gomide é considerada a primeira mulher a graduar-se em matemática numa instituição brasileira. Ela nasceu em São Paulo, em 20 de agosto de 1925, e era filha de um professor de matemática. Diferentemente do seu pai, sua carreira começou na Física com o seu ingresso na Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu sua graduação em meio à Segunda Guerra Mundial, em 1944. Porém, enquanto cursava a sua primeira graduação se apaixonou pela matemática, levando-a a dedicar um ano de graduação a sua nova paixão. Em seguida, iniciou sua carreira de professora e pesquisadora na área.
Elza considerava que sua maior contribuição para a matemática brasileira foi o estímulo que deu a vários estudantes e sua participação no Fórum das Licenciaturas, organizado pela USP em 1990. Esse Fórum promoveu amplo debate sobre a profissão de professor e o papel da universidade na formação de profissionais qualificados.
5 - Nise da Silveira (1905-1999) | Médica Psiquiatra
Em Macéio, em 15 de fevereiro de 1905, nasceu a médica psiquiatra Nise da Silveira. Com uma inteligência peculiar, aos 16 anos foi admitida na Faculdade de Medicina da Bahia e aos 21 anos concluiu o curso com a monografia sobre a criminalidade feminina. Na época, ela foi a única mulher a se formar em medicina pela faculdade, em uma turma de 158 alunos.
A médica psiquiatra dedicou a vida na luta contra os tratamentos psiquiátricos agressivos, como choques e lobotomia. Em 1930, foi denunciada e presa como comunista por 16 meses na Casa de Detenção da rua Frei Caneca, no Rio de Janeiro. Em 1946, ela foi reintegrada ao serviço público com a anistia e propôs ao diretor do Centro Psiquiátrico Pedro II a criação de uma seção de terapia ocupacional.
Nise da Silveira foi pioneira na pesquisa sobre o tratamento da doença mental através da arte-terapia, tendo reconhecimento internacional por seu feito. As imagens das produções artísticas dos internos foram reunidas no Museu de Imagens do Inconsciente, fundado em 1952. Ela faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 1999.
Mulheres na ciência
Lembrar das mulheres que ajudaram a escrever a história da ciência no Brasil é uma forma de reconhecer a importância da participação feminina no desenvolvimento científico do país. Apesar de, tradicionalmente, a ciência sempre ter sido vista como um campo de atuação composto por homens.
Ficou interessado em conhecer outras pesquisadoras e/ou cientistas que ajudaram na difusão da ciência no Brasil? Na próxima semana, confira mais 5 mulheres que marcaram a história e tiveram um papel fundamental no meio científico.
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